Congresso
em Foco – O que vocês querem dizer com a defesa da liberdade de expressão? O
senhor falou neste feriado sobre o controle da mídia…
Pastor
Silas Malafaia – Tem áreas da
esquerda que querem controlar o conteúdo da mídia. Imprensa livre é base do
estado democrático de direito. Liberdade de expressão porque o ativismo gay
quer criminalizar a opinião. Em qualquer lugar do mundo, você pode falar contra
a prática homossexual. Aqui eles querem dizer que é homofóbico. Eles me
denunciaram ao Ministério Público por fala. Quando é que eu bati num gay? Como
é que sou homofóbico? Então, liberdade de expressão, que está atrelado a
liberdade religiosa, para eu pregar e falar contra o que eu quiser. Isso é que
é estado democrático de direito.
O
senhor fala daquela passeata gay que fez piada com os símbolos da igreja
católica?
[Malafaia foi denunciado porque disse na TV
que a igreja católica deveria criticar os homossexuais, usando a metáfora
descer o “porrete”. A Justiça arquivou a denúncia, mas houve recurso à segunda
instância.]
Esse é o segundo caso. O primeiro não
deu nem pro cheiro – a primeira vez tem cinco anos. Agora, em 2011. Eles
recorreram à segunda instância.
O
outro eixo é a família tradicional.
A questão é a seguinte, amigo. Querem dar status, a
comportamento, de raça. Ninguém pede para nascer branco ou negro. É.
Homossexualismo, não. Ninguém nasce homossexual, não existe nenhuma prova na
genética, em nenhum lugar. A prova é que 48% dos caras que são gays foram
violentados quando eram crianças ou adolescentes. Violência sexual.
Isso
é pesquisa de quem, pastor?
Pesquisa americana. Pode pegar qualquer livro que levanta
pesquisa sobre movimento gay que está lá.
São
dados do EUA, então.
Filho, eu estou numa igreja. Vem ver
aqui os caras que vêm pedir socorro por homossexualismo. Eu ainda não vi que
veio aqui na minha igreja que disse assim: “Eu quis ser gay e agora quero
mudar”. Não! Tudo sofreu violência os que vêm aqui. É um negócio maluco.
Dos
que o senhor atende, todos sofrem violência?
Até aqui. Pode ser que amanhã apareça
dizendo que não: “Eu sou gay porque quero”. E acredito que muitos, porque o ser
humano vive de modelos de imitação. Quanto mais você colocar em prática um
modelo para ser imitado pela sociedade, ele mais vai ter aflição disso aí. O
ser humano é tremendamente social. Ele se desenvolve nas relações sociais. Essa
história de que todo mundo que é gay é porque nasceu gay… Quer dizer que a
Daniela Mercury [cantora que há dois meses ela assumiu um relacionamento com
uma jornalista] nasceu gay? A mulher foi casada nove anos com um homem. Ela
estava transando com um homem e pensando em uma mulher? Pra cima de mim? A
mulher tem filhos, tem três, quatro, cinco filhos, sei lá quantos filhos ela
tem. Então, ela já nasceu gay por algum acaso? É papo. Isso é conversa pra boi
dormir.
Quantos
o senhor atendeu? Este ano?
Esse ano até que eu atendi uns três.
Até porque eu não fico muito em área de atendimento, porque eu sou pastor da
organização. Tem uma “pastorada” minha grande, tem atendimento de domingo a
domingo aqui na igreja.
E
no ano passado? Mais de dez? Mais de 20?
Mais de dez com certeza. Meu amigo,
isso é uma verdade. A pesquisa americana retrata o que é no mundo. Eles não
querem falar. Eles não dizem. Quase que a metade sofreu abuso. Pô, pelo amor de
Deus, o cara nasce gay aonde?
Defender
a família tradicional quer dizer que vocês são contra o casamento gay?
A gente tem que construir uma tese.
Não é “eu não quero” e acabou. Se é pra aprovar qualquer comportamento, o que
não tem ativismo não legaliza? Por que não legaliza o cara casar com duas ou
três mulheres, já que muitos têm? Por que não legaliza o cara casar com um
homem e com uma mulher? Uma mulher casar com um homem e outra mulher? Por que
não legaliza isso? É comportamento também. Tem um monte de cara com duas
mulheres, três. Manda casar todo mundo. Por quê? Só que porque não tem
ativismo? Isso é hipocrisia da sociedade. Então, legaliza tudo pra ver onde que
vai parar a sociedade. Casamento tem a ver com a perpetuação da espécie. Toda a
história da civilização humana – não estou falando de teologia, é
antropológico, é sociológico – é um homem, mulher e prole. Isso é história da
civilização humana. O resto é blá-blá-blá. Homossexualismo sempre existiu desde
que o pecado entrou no mundo. Agora, ativismo gay é coisa de 25 anos pra cá.
Império romano, grego, assírio, babilônico…
O
senhor declarou em entrevista neste feriado que qualquer um é livre pra fazer o
que quiser…
Qualquer um é livre para ser o que
quiser ser.
Então
porque o senhor é contra o casamento gay, já que é um direito individual?
Vamos devagar. Cada um é livre para
ser o que quiser ser. Mas tudo o que você quer ser tem uma consequência. Você é
livre, mas, se vamos legalizar um comportamento, então legalizemos todos. Vamos
legalizar o cara que cheira cocaína, maconha. Também é um comportamento. Vamos
liberar, pô, vamos liberar tudo. Cara que tem três mulheres. Por que não pede
para liberar o casamento do cara com quatro mulheres?
Mas
o senhor é a favor de legalizar o casamento gay, as drogas e a bigamia?
Eu não sou a favor de legalizar nada.
Estou querendo provar que, quanto mais a sociedade quebra limites, meu amigo,
ela se afunda na lama. Já que estão querendo legalizar o casamento gay, então
porque não querem legalizar o cara que tem duas ou três quatro mulheres?
Mas
está cheio de deputados querendo legalizar as drogas, não sei a bigamia.
Tá cheio de deputados. Vamos ver a
sociedade! Portugal legalizou e aumentou o número de consumidores. Ninguém fala
isso [Na semana passada, Associação Brasileira do Estudo do Álcool e outras
Drogas (Abead) condenou a legalização da maconha porque, em sete países, o
consumo aumentou e a idade de experimentação baixou]. Vai ver o tamanhozinho de
Portugal. Vai ver o Brasil, com essa fronteira toda aberta aí, com os maiores
produtores de droga do mundo colados com a gente. Pra que lei seca? Isso é uma
incoerência dos infernos. Se o cara pode cheirar cocaína, libera tudo. “Ah,
diminui acidentes e problemas pro Estado pagar”. Rapaz, esses caras estão
loucos. O nosso Estado não cuida nem saúde das pessoas, vai cuidar agora… Olha
o que o crack e essas drogas fazem. Ninguém começa com crack, começa com
maconha…
Voltando
à pergunta: se é uma questão individual, porque não formalizar e passar um
papel para eles terem direito a herança?
Se é para direitos individuais, vamos
liberar tudo. Se você entrar na tese dos direitos individuais, vai liberar
tudo.
Mas
eles querem liberar tudo. E aí?
Então, eu sou contra. Contra
casamento gay, liberação das drogas, aborto. Se a sociedade liberar tudo, ela
se destrói. Teve um cara que escreveu livro lançado agora em maio, um filósofo,
mostrando a decadência do ocidente. E a decadência do ocidente tem a ver com
questões morais também. O modelo judaico-cristão está sendo substituído pelo
modelo humanista-ateísta. O jogo é mais profundo. Quem é que faz defesa de
vida? É o modelo judaico-cristão. Quem é que dá a questão da família
monogâmica? O modelo cristão. É que está na sociedade e o é o que tem dado
certo. Vai ver o problema de gente sem identificação de pai e mãe.
E
o da vida? O protesto é à tarde. Pela manhã, a Câmara vota o Estatuto do
Nascituro e a bolsa estupro. Vocês defendem?
Claro. Tudo o que for pra proteger a
vida conta com a gente. Tudo contra a vida, não tem um centavo. E a coisa do
aborto é incrível. Quem te falou que o feto é prolongamento do corpo da mulher?
Na gestação, o feto é o agente ativo; a mulher, o passivo. Quer ver a
prova? Um óvulo fecundado de um casal negro implantado numa mulher branca vai
nascer um negro. O óvulo fecundado de um casal branco implantado numa mulher
negra vai nascer branco. É pra provar que não é prolongamento dela. Se não é prolongamento
dela, ela não tem poder de decidir aquilo que não é prolongamento. Ela tem
poder de decidir sobre cortar o cabelo, aparar a unha. É prolongamento do corpo
dela. O feto, não. Se não estivesse protegido pela bolsa, ele era expulso como
corpo estranho.
E
a eutanásia e a ortotanásia?
Sou contra qualquer coisa que
venha tirar a vida. O ex-ministro [do Supremo Tribunal Federal] Menezes
Direito [falecido em 2009], aquele católico, disse uma frase linda: “Todo ser
humano nasce pra morrer, pode ser a um segundo ou um milésimo de segundo,
depois que ele vem à vida. Mas nenhum ser humano tem direito de determinar a
hora do outro morrer. Porque nenhum ser humano é mais humano do que o outro”.
E amanhã [quarta-feira], irmão, nós
vamos descer o bambu, meu filho. O couro vai comer. Vai ser bonito.
Quantas
pessoas?
Acredito que vai ter umas 100 mil
pessoas pra dia de semana de trabalho. Não é brinquedo não.
Uma
provocação. Ouvi de pessoa evangélica: “Não temos que impedir o casamento gay
deles, mas evangelizar as pessoas, porque é um direito delas fazer o pecado, o
erro, e convencê-los com as ideias que estão errados”.
Isso é bonitinho. Não sabia que tinha
politicamente correto gospel. Nós combatemos comportamentos, e não pessoas. Nós
combatemos pecados. Na Bíblia, homossexualismo é pecado. O cara que você está
dizendo está totalmente desconectado do que a Bíblia diz. A Bíblia diz: “Não
vos conformei com este mundo, mas transformai-vos pela renovação do vosso
entendimento” [Romanos capítulo 12, verso 2]. Como você transforma alguma
coisa? Dizendo que tá tudo bem? Que não tem problema? Isso é conversa. Claro
que tem que evangelizar. A Bíblia tá cheia de condenação de pecados. Jesus
falou, o apóstolo Paulo falou. Ele precisa ler mais a Bíblia.
E
quanto ao PL 122, que criminaliza a discriminação aos homossexuais, a
homofobia. Está resolvida a questão? O acordo feito pela Marta Suplicy
[senadora licenciada do PT-SP e ministra da Cultura] não retirou aquela
proibição de pregar contra a homossexualidade?
Claro que não. Esses caras querem
privilégio. Não são eles que vão nos dar esse direito. Eu não dependo de
ninguém para me dar direito de pregar. A Constituição dá. Ninguém poder
ser discriminado por convicção política, ideológica e filosófica.
Então
o projeto é inofensivo, já que a Constituição garante o direito?
Inofensivo? É claro que a
Constituição garante. Então, o projeto é inconstitucional [risos].
Mas
e o acordo?
Não tem acordo. Filho, a dona Marta Suplicy,
querendo jogar pra platéia porque queria ser candidata a prefeita, e olhando
para o voto evangélico… Eu vou na ferida pra dizer a verdade. Ela veio com essa
falácia. Pega lá o PL 122. Eles querem aprovar aquilo que está lá. E aquilo é
inconstitucional, uma afronta à liberdade de expressão e à liberdade religiosa.
Nunca vi um grupo querer direitos em detrimento do direito de outros. Taí a Lei
Maria da Penha. É tudo pra proteger um grupo, sem detrimento de outros. O
ativismo gay quer proteção, em detrimento dos outros. Eu vou ficar quieto? Não
posso. O PL 122 não tem em lugar nenhum do mundo, em país adiantado e moderno.
Tem
espaço para dialogar com os grupos que pensam diferente do senhor?
Como vou dialogar com os caras que
usam a mentira e a calúnia para me denunciar ao Ministério Público? Como vou
negociar com quem usa a mentira e a calúnia pra me denunciar pra tentar cassar
minha credencial de psicólogo? Como vou dialogar com os caras que usam a
calúnia e a difamação pra tentar tirar meu programa [de TV] do ar no Ministério
da Justiça? Como faz pra dialogar? Não tem conversa. Vou dialogar com quem
aparece na mídia bonitinho e, por trás, vive fazendo cachorrada e safadeza?
O
deputado Domingos Dutra (PT-MA) me disse que vocês querem “expor força para
amedrontar” a presidente Dilma às vésperas da eleição para ameaçar no ano que
vem não apoiá-la. O senhor não tem simpatias pelo PT, mas muitos evangélicos
têm…
Eu não tenho simpatia pelo PT? Que
conversa é essa? O cara que apareceu no TRE [programa eleitoral] do Lula fui eu
em 2002. Fui membro do Conselho Desenvolvimento Econômico e Social da
Presidência da República. Quem é que está apoiando Lindbergh [Farias, senador
do PT-RJ pré-candidato ao governo do estado, em oposição a Pezão, do PMDB,
apoiado por Sérgio Cabral, o atual governador] no Rio de Janeiro? Sou eu! Agora,
sabe como é a doutrina do PT? Você não pode ter ideias, você não pode discordar
deles. Eles estão enganados. Estão pensando que sou massa de manobra deles?
Ajudei a eleger Walter Pinheiro [PT], que é senador pela Bahia, que é
evangélico.
Mas
o Domingos Dutra diz que isso é pra pressionar a Dilma.
Ele não sabe o que está falando.
Ouviu o passarinho cantar e nem sabe o nome dele.
O
senhor vai apoiar Dilma em 2014? Aécio? Marina?
Tem que ter alternância de poder, nem
PT, nem PSDB…
Mas
o senhor apoiou o José Serra na prefeitura de São Paulo no ano passado. Vários
candidatos no Rio. O senhor sempre se manifesta.
Apoiei 25 candidatos a prefeito, 18
ganharam. Para vereador, apoiei 20. Dezoito se elegeram.
Então,
como seu apoio é importante, o senhor não acredita que, mesmo sem intenção, o
governo pode entender o protesto como um recado?
O governo pode fazer o que quiser.
Como
vai ser o evento?
Essa vai ser a maior reunião com o
maior número de líderes da igreja evangélica até hoje.
É
a primeira reunião depois da resolução do CNJ do casamento gay, né?
Sim. Eles vão tomar um pau que não
vai ser brincadeira. Vou bater com vontade no CNJ. E vou bater em qualquer um
que queira controlar a imprensa. A máxima nossa é imprensa sempre livre
até pra falar mal de nós [risos]. Esses idiotas chamando-nos de
fundamentalistas reacionários estão por fora. Queremos uma imprensa
terrivelmente livre, que é fundamento pro estado democrático de direito. Vou lá
e vou descer o bambu sobre qualquer tentativa de cercear a imprensa. Isso aqui
não é Argentina, Venezuela, Equador, Bolívia e nem Guatemala. É o que vou dizer
lá.