quinta-feira, 31 de outubro de 2013

DEUS EM TRÊS PESSOAS: A TRINDADE (PARTE II)






2. A revelação mais completa da Trindade no Novo Testamento.

Quando começa o Novo Testamento, entramos na história da vinda do Filho de Deus à terra. Era de esperar que esse grande acontecimento se fizesse acompanhar de ensinamentos mais explícitos sobre a natureza trinitária de Deus, e de fato é isso que encontramos. Antes analisar a questão com pormenores, podemos simplesmente listar várias passagens em  que as três pessoas da Trindade são mencionadas juntas.
Quando do batismo de Jesus, " ... e eis que se lhe abriram os céus, e viu o Espírito de Deus descendo como pomba e vindo sobre ele. E eis que uma voz dos céus dizia: Este é o meu Filho amado, em quem me comprazo" (Mt 3.16-17). Aqui, ao mesmo tempo, temos os três membros da Trindade realizando três ações distintas. Deus Pai fala de lá do céu; Deus Filho é batizado e depois ouve a voz de Deus Pai vinda do céu, e o Espírito Santo desse do céu para pousar sobre Jesus e dar-lhe poder para o seu ministério.
Ao final do seu ministério terreno, Jesus diz aos discípulos que eles devem ir e fazer "discípulos de todas as nações, batizando-os em nome do Pai, e do Filho e do Espírito Santo" (Mt 28.19). Os próprios nomes "Pai" e "Filho", baseados na família e mais comum das instituições humanas, indicam com muita força a distinção das pessoas do Pai e do  Filho. E se o "Espírito Santo" é inserido na mesma  frase e no mesmo nível das outras duas pessoas. difícil é evitar a conclusão de que o Espírito Santo é também, tido como pessoa e de posição igual ao do Pai e do Filho.
Quando nos damos conta de que os autores do Novo Testamento geralmente usam o nome "Deus" (gr. theos) para se referir a Deus Pai e o nome "Senhor" (gr. Kyrios) para se referir a Deus Filho, fica claro que há outro termo trinitário em 1 Coríntios 12.4-6 "Ora, há diversidade de dons, mas o Espírito é o mesmo. E há diversidade de ministérios, mas o Senhor é o mesmo. E há diversidade de operações, mas é o mesmo Deus que opera tudo em todos."
Igualmente, o último versículo de 2 Coríntios é trinitário na sua expressão: "A graça do Senhor Jesus Cristo, e o amor de Deus, e a comunhão do Espírito Santo seja com todos vós. Amém." (2 Co 13.13 ou 14). Verificamos também as três pessoas mencionadas separadamente em Efésios 4. 4-6:"Há um só corpo e um só Espírito, como também fostes chamados em uma só esperança da vossa vocação; Um só Senhor, uma só fé, um só batismo; Um só Deus e Pai de todos, o qual é sobre todos, e por todos e em todos vós."
As três pessoas da Trindade são mencionadas juntas na primeira frase de 1 Pedro: "Eleitos segundo a presciência de Deus Pai, em santificação do Espírito, para a obediência e aspersão do sangue de Jesus Cristo..." (1 Pe 1.2). E em Judas 20-21, lemos: "Mas vós, amados, edificando-vos a vós mesmos sobre a vossa santíssima fé, orando no Espírito Santo, Conservai-vos a vós mesmos no amor de Deus, esperando a misericórdia de nosso Senhor Jesus Cristo para a vida eterna."
Todavia, a tradução (dentro de colchetes, significando que o texto em questão não tem apoio dos melhores manuscritos que a ARA dá de 1 Jo 5.7 não deve ser usada com esse fim. Lê-se: "Pois são três os que dão testemunho no céu: O Pai, a Palavra e o Espírito Santo; e esses três são um".
O problema dessa tradução é que ele se baseia num número muito pequeno de manuscritos gregos pouco confiáveis, sendo o mais antigo desses do século XIV d.C.. As melhores versões  não incluem esse trecho, mas o omitem, como o faz a grande maioria dos manuscritos gregos de todas as  traduções textuais de  monta, inclusive vários manuscritos bastante confiáveis dos séculos IV e C d.C., e também citações dos pais da igreja, como Ireneu (m.c. 212 d.C.), Tertuliano (m.  depois de 220d.C.) e o grande defensor da Trindade, Atanásio (m. 373 d.C.).

B. TRÊS DECLARAÇÕES QUE RESUMEM O ENSINO BÍLICO.

Em certo  sentido a doutrina da trindade é um mistério que jamais seremos capazes de entender plenamente. Podemos, todavia, compreender parte de sua verdade resumindo o ensinamento da Escrituras em três declarações:
1. Deus é três pessoas.
2. Cada pessoa é plenamente Deus.
3. Há só um Deus

A seção seguintes desenvolverá mais detalhadamente cada uma dessas declarações.


Postado pelo Pastor Augustus Nicodemus Lopes


segunda-feira, 28 de outubro de 2013

Deus em três Pessoas: A Trindade (Parte I)





Como Deus pode ser três  pessoas, porém um só Deus?


Podemos definir a doutrina da Trindade do seguinte modo: Deus existe eternamente como três pessoas - Pai, Filho e Espírito Santo - e cada pessoa é plenamente Deus, e existe só um Deus.




A DOUTRINA DA TRINDADE REVELA-SE PROGRESSIVAMENTE NAS ESCRITURAS.


1. A revelação parcial no Antigo Testamento.

A palavra Trindade não se encontra na Bíblia, embora a ideia representada pela palavra seja ensinada em muitos trechos. Trindade significa "tri-unidade" ou "três-em-unidade". É usada para resumir o ensinamento bíblico de que Deus é três pessoas, porém um só Deus.
Às vezes se pensa que a doutrina da Trindade se encontra somente no Novo Testamento, e não no Antigo. Se Deus existe eternamente como três pessoas, seria surpreendente não encontrar indicações disso no Antigo testamento. Embora a doutrina da Trindade não se ache explicitamente no Antigo Testamento, várias passagens dão a entender ou até implicam que Deus existe como mais de uma pessoa.
Por exemplo, segundo Gn 1.26, Deus disse: "Façamos o homens à nossa imagem, conforme a nossa semelhança". O que significa o verbo ("façamos") e o pronome ("nossa"), ambos na primeira pessoa do plural? Alguns já afirmaram tratar-se de plurais majestáticos, forma de falar que um rei usaria ao dizer, por exemplo: "Temos o prazer de atender-lhe o pedido". Porém, no Antigo Testamento hebraico, não se encontram outros exemplos em que um monarca use verbos no plural ou pronomes plurais para referir-se a si mesmo nessa forma de "plural majestático"; portanto, essa sugestão não tem evidências que a sustentem. Outra sugestão é que Deus esteja aqui falando com anjos. Mas os anjos não participaram da criação do homem, nem foi o homem criado à imagem e semelhança de anjos; por isso a sugestão não é convincente. A melhor explicação é que já nos primeiros capítulos de Gênesis temos uma indicação da pluralidade de pessoas no próprio deus. Não sabemos quantas são as pessoas, e nada temos que se aproxime de  uma doutrina completa da Trindade, mas implica-se que há mais de uma pessoa. O mesmo se pode dizer de Gn 3.22 ("Eis que o homem se tornou como um de nós, conhecedor do bem e do mal"), Gn 11.7 ("Vinde, desçamos e confundamos ali a sua linguagem") e Is 6.8 ("A quem enviarei, e quem há de ir por nós?"). (Repare a combinação de singular e plural na mesma oração na última passagem)
Além disso, em determinadas passagens uma pessoa é chamada "Deus" ou "Senhor" e distinguida de outra pessoa também chamada de Deus. Em Salmo 45.6-7(NIV), diz o salmista: "O teu trono, ó Deus, perdurará para todo o sempre. [...] Tua amas a justiça e odeia a iniqüidade; portanto, Deus, o teu Deus, te estabeleceu acima dos teus companheiros ungindo-te com o óleo da alegria". Aqui o salmo vai além de descrever algo que poderia valer para um rei terreno, e chama o rei de "Deus" (v. 6), cujo trono perdurara "para todo o sempre". Mas então, ainda falando da pessoa chama "Deus", o autor diz que Deus, o teu Deus, te estabeleceu acima dos teus companheiros" (v. 7). Então duas pessoas distintas são denominadas "Deus" (heb. 'Elõhîm). No Novo Testamento, o autor de Hebreus cita essa passagem e a aplica a Cristo: "O teu trono, ó Deus, é para todo o sempre" (Hb 1.8)
Do mesmo modo, em Salmo 110.1, fala Davi: "DIsse o Senhor ao meu Senhor: Assenta-te à minha mão direita, até que ponha os teus inimigos por escabelo dos teus pés". Jesus corretamente entende que Davi se refere a duas pessoas distintas como "Senhor" (Mt 22.41-46), mas quem é o "Senhor" de Davi senão o próprio Deus? E quem poderia dizer a Deus "Assenta-te à minha direita", exceto alguém que também seja plenamente Deus? Do ponto de vista do Novo Testamento, podemos parafrasear assim esse versículo: "Deus Pai disse a Deus Filho:"Assenta-te à minha direita". Mas mesmo sem o ensinamento do Novo Testamento sobre a Trindade, parece claro que Davi estava ciente de um pluralidade de pessoas num só Deus. Jesus, é claro, compreendo a isso, mas quando pediu aos fariseus uma explicação dessa passagem, "E ninguém podia responder-lhe uma palavra; nem desde aquele dia ousou mais alguém interrogá-lo."(Mt 22.46). A menos que se disponham a admitir a pluralidade de pessoas num só Deus, os intérpretes judeus das Escrituras, mesmo hoje, não terão explicação mais satisfatória de Salmo 110.1 ( ou Gn 1.26, ou das outras passagens analisadas há pouco) do que aquela que circulava no tempo de Jesus.
Isaías 63.10 diz sobre o povo de Deus que "eles foram rebeldes e contestaram o seu Espírito Santo", dando a entender, aparentemente, tanto que o Espírito Santo é distinto do próprio Deus (é "seu Espírito Santo") quanto que esse Espírito Santo pode-se "contristar", entristecer-se, aventando assim capacidade emocionais características de uma pessoa distinta. (Is 61.1 também distingue "O Espírito do SENHOR Deus" do "SENHOR", ainda que não se atribua qualidade pessoais ao Espírito Senhor nesse versículo. 
Evidências semelhantes encontram-se em Malaquias, em que diz o Senhor: "Eis que eu envio o meu mensageiro, que preparará o caminho diante de mim; e de repente virá ao seu templo o Senhor, a quem vós buscais; e o mensageiro da aliança, a quem vós desejais, eis que ele vem, diz o Senhor dos Exércitos. Mas quem suportará o dia da sua vinda? E quem subsistirá, quando ele aparecer? Porque ele será como o fogo do ourives e como o sabão dos lavandeiros." (Ml 3.1-2). Aqui, novamente, aquele que fala (o SENHOR dos Exércitos") distingue-se do "Senhor, a quem vós buscais", sugerindo duas pessoas separas, que podem ambas ser chamadas "Senhor".
Em Oséias 1.7, o Senhor fala da casa de Judá: E os salvarei pelo Senhor, seu Deus", novamente sugerindo que mais da uma pessoa pode ser chamada "Senhor" (heb. Yahweh) e "Deus" ( 'Elõhîm).
E em Isaías 18.16, aquele que fala (aparentemente o servo do Senhor) diz: "Agora, o Senhor Deus me enviou a mim e o seu Espírito". Aqui o Espírito do Senhor, como o servo do Senhor, foi "enviado" pelo Senhor Deus para uma missão particular. O paralelismo entre os dois objetos de enviar ("mim" e "o seu Espírito") é compatível com a interpretação de que são pessoas distintas: parece significar mais do que meramente "o Senhor  enviou a mim e o seu poder". De fato, do ponto de vista do Novo Testamento (que reconhece Jesus, o Messias, como o verdadeiro Servo do Senhor predito nas profecias de Isaías), Isaías 18.16 carrega implicações trinitárias: "Agora, o Senhor Deus me enviou a mim e o seu Espírito", se dito por Jesus, o Filho de deus, menciona as três pessoas da Trindade.
Além do mais, diversas passagens do Antigo testamento sobre o "Anjo do Senhor"  subentendem uma pluralidade de pessoas em Deus. A palavra traduzida "anjo" (heb. mal'ak) significa simplesmente "mensageiro". Se esse anjo do Senhor é um "mensageiro" do Senhor, ele pe então distinto do próprio Senhor. Porém, em algumas passagens o anjo do Senhor é chamado "Deus" ou "Senhor" (ver Gn 16.13; Êx 3.2-6; 23.20-22 [repare "nele está o meu nome" no v. 21]; Nm 22.35 com 38; Jz 2.1-2; 6.11 com 14). Em outros trechos no Antigo Testamento "o Anjo do Senhor" simplesmente se refere a um anjo criado, mas pelo menos nesses textos o anjo (ou "mensageiro") especial do Senhor parece ser uma pessoa distinta e plenamente divina.
Um dos textos mais polêmicos do Antigo Testamento que poderia revelar personalidades distintas para mais de uma pessoa está em Provérbios 8.22-31. Embora a parte anterior do capítulo possa ser compreendida como meramente uma personificação da "sabedoria", com vistas a um efeito literário, mostrando a sabedoria a chamar os simples e a convidá-los a aprender, é possível argumentar que os vv. 22-31 dizem coisas sobre a "sabedoria" que parecem ir além da mera personificação.  Falando do tempo em que Deus criou a terra, diz a sabedoria: "... então, eu estava com ele e era arquiteto, dia após dia, eu era as suas delícias, folgando perante ele em todo o tempo; regozijando-me no seu mundo habitável e achando as minhas delícias com os filhos dos homens (Pv 8.30-31). Atuar como "arquiteto" junto de Deus na criação indica em si mesmo a idéia de uma pessoas distinta, e as frases seguintes talvez sejam ainda mais convincentes, pois apenas pessoas reais podem "dia após dia [ser] as suas delícias" e também se alegrar no mundo e se deleitar com os filhos dos homens.
Mas se decidimos que "sabedoria" aqui se refere de fato ao Filho de Deus antes de ele se tornar homem, há uma dificuldade. Os versículos de 22-25 parecem falar da criação dessa pessoa chamada "sabedoria":
O Senhor me possuiu no princípio de seus caminhos, desde então, e antes de suas obras.
Desde a eternidade fui ungida, desde o princípio, antes do começo da terra. 
Quando ainda não havia abismos, fui gerada, quando ainda não havia fontes carregadas de águas.
Antes que os montes se houvessem assentado, antes dos outeiros, eu fui gerada.

Porventura  não  indica isso que tal "sabedoria" foi criada?
Na verdade, não. A palavra hebraica que geralmente significa "criar" (bãrã') não é usada no versículo 22; a palavra é qãnãh, que ocorre oitenta e quatro vezes no Antigo Testamento e quase sempre significa "obter, adquirir". A Almeida Revista e Atualizada é mais clara aqui: "O Senhor me possuía no início de sua obra" (Semelhante Á Versão King James; repare esse sentido da palavra em Gn 39.1; Ex 21.2; Pv 4.5, 7; 23.23; Ec 2.7; Is 1.3["possuidor"]. trata-se de um sentido legítimo e, se a sabedoria for compreendida como uma pessoa real, significaria apenas que Deus Pai começou a dirigir e a fazer uso da potente ação criadora de Deus Filho no momento do início da Criação: o Pai convocou o Filho a trabalhar com ele na obra da criação. A palavra "gerado" nos versículos 24 e 25 é um termo diferente, mas poderia carregar significado semelhante: o Pai começa a dirigir e a fazer uso da potente ação criadora do Filho na criação do universo.


Postado pelo Pastor Augustus Nicodemus Lopes



sexta-feira, 25 de outubro de 2013

Um duro golpe na indústria religiosa!






Por que despertamos o ódio de tanta gente quando expomos a Verdade em contraposição dos métodos e estratégias usadas pela igreja atual? Basta um artigo sobre assuntos polêmicos como o G12, a Teologia da Prosperidade, e outros, para que o ânimo de alguns que se dizem irmãos se altere. Quando comentam em nossos artigos, em vez de exporem seus pensamentos com base nas Escrituras, preferem os ataques pessoais, tentando minar nossa credibilidade e pôr em xeque nossas motivações.

Por incrível que pareça, este não é um fenômeno recente. A igreja primitiva teve que lidar com as mesmas reações, ora por parte dos judeus, ora por parte dos gentios.

Um episódio que pode atestar o que estamos afirmando é o que lemos em Atos 19, e que nos mostra o efeito causado pela atuação do ministério de Paulo em Éfeso. À medida que as pessoas iam se convertendo à Fé, elas abandonavam suas superstições e crendices. O texto diz que “muitos dos que tinham praticado artes mágicas trouxeram os seus livros, e os queimaram na presença de todos” (v.19). Até aí, tudo bem. Cada um faz o que quer com o que é seu. Quer rasgar, queimar, quebrar, dar fim, o problema é dele. Mas alguém que assistia resolveu calcular o prejuízo: “Feita a conta do seu preço, acharam que montava a cinqüenta mil moedas de prata”. Uau! Se Judas traiu Jesus por trinta moedas de prata, e isso já era uma quanta considerável, imagine o que representava uma quantia tão vultosa: cinqüenta mil moedas de prata!
Pra se ter uma idéia do montante, as trinta moedas recebidas por Judas foram suficientes para adquirir um campo. Isso significa que as 50 mil moedas de prata daria pra comprar cerca de 1666 campos! Tudo isso em livros. O mercado editorial de Éfeso entrou em colapso. Aquelas pessoas que dispuseram seus livros para a fogueira, jamais voltariam a consumir tal literatura.

Devemos estar cientes que a pregação do genuíno Evangelho sempre fere interesses. Alguém vai ter que arcar com o prejuízo.

Não bastasse a quebra do mercado editorial, sobrou também para a indústria religiosa. O texto diz que “por esse tempo houve um não pequeno alvoroço acerca do Caminho. Certo ourives, por nome Demétrio, que fazia de prata miniaturas do templo de Diana, dava não pouco lucro aos artífices. Ele os ajuntou, bem como os oficiais de obras semelhantes, e disse: Senhores, vós bem sabeis que desta indústria vem a nossa prosperidade. E bem vedes e ouvis que não só em Éfeso, mas até quase em toda a Ásia, este Paulo tem convencido e afastado uma grande multidão, dizendo que não são deuses os que se fazem com as mãos. Não somente há perigo de que a nossa profissão caia em descrédito, mas também que o próprio templo da grande deusa Diana seja estimado em nada, vindo a ser destruída a majestade daquela que toda a Ásia e o mundo veneram” (At.19:23-27).

Em outras palavras, a mensagem pregada por Paulo doía no bolso e ainda maculava a reputação deles, colocando-os em descrédito perante a opinião popular. Portanto era uma questão que envolvia dinheiro e reputação, avareza e vaidade. Para disfarçar, eles alegavam que Diana, sua deusa, estava sendo ultrajada, dando assim um ar de piedade religiosa às suas reivindicações. Foi o suficiente para que houvesse uma manifestação popular. – Grande é Diana dos Efésios! Bradava a turba.

No fundo, no fundo, o que os incomodava não era o culto à deusa. Se o templo de Diana fosse reputado em nada, o que fariam os que viviam da venda de miniaturas dele? Imagine se convencêssemos as pessoas que a Arca da Aliança (tão em voga no meio evangélico hoje em dia) não passava de uma figura de Cristo, e que já não serve pra nada. O que fariam os pastores que distribuem miniaturas da Arca por uma oferta módica de 100 reais?

O que seria daquela cidade se o culto a Diana foi exterminado? E os milhares de romeiros que vinham de todas as partes do mundo para ver de perto da imagem que, segundo o dogma, havia caído de Júpiter?
A pregação do Evangelho causou tamanho impacto que bagunçou o coreto daquela sociedade. Todos os esquemas foram desarmados. Era como se a correia dentada do motor que a mantinha em movimento se arrebentasse. De repente, todas as engrenagens pararam.

Alguma providência tinha que ser tomada! Tomaram dois dos companheiros de Paulo e os levaram ao teatro para apresentá-los à turba enfurecida. Paulo quis se apresentar, mas foi dissuadido por algumas autoridades que lhe eram simpáticas. No meio do tumulto, “uns clamavam de uma maneira, outros de outra, porque o ajuntamento era confuso. A maioria não sabia por que se tinha reunido”(v.32). Eis o retrato fiel de um povo “Maria-vai-com-as-outras”, que só serve de massa de manobra nas mãos dos poderosos. A maioria sequer sabia o que estava acontecendo. Mas não hesitavam em unir suas vozes aos demais em protesto gratuito e desprovido de sentido.

Quando Alexandre se apresentou diante do povo, acenando com a mão como quem queria apresentar uma defesa, “todos unanimemente levantaram a voz, clamando por quase duas horas: Grande é a Diana dos Efésios!” (v.34). Repare nisso: Diana era considerada deusa em todo o império romano. Mas em Éfeso, seu culto tomou um vulto inédito. Ela não era apenas “Diana”, e sim “Diana dos Efésios”. Algo parecido com o apego que muita gente tem à sua denominação. Cristo deixa de ser Cristo, para ser o “Cristo dos Batistas”, o “Cristo dos Presbiterianos”, o “Cristo dos Pentecostais”, o "Cristo dos Católicos", e assim por diante.

Finalmente, o escrivão da cidade (provavelmente um figurão da sociedade efésia), conseguiu apaziguar a multidão, dizendo: “Efésios, quem é que não sabe que a cidade dos efésios é a guardadora do templo da grande deusa Diana, e da imagem que caiu de Júpiter? Ora, não podendo isto ser contraditado, convém que vos aquieteis e nada façais precipitadamente” (vv.35-36).

Para tentar controlar o manifesto, o tal escrivão apelou ao dogma religioso. Dogma é aquilo que não se pode contestar. É tabu. Está acima do bem e do mal. Por isso, não se discute. É isso e tá acabado. A igreja evangélica também tem seus dogmas. Ninguém se dá o trabalho bereiano de averiguar se o que está sendo pregado bate ou não com as Escrituras. Se o líder falou, está dito. E se alguém se atreve a questionar, é logo taxado de herege, e acusado de estar tocando no ungido do Senhor.

Alguém viu quando a estátua caiu de Júpiter? De onde provinha tal certeza? Quem anunciou o fato Provavelmente foram os sacerdotes do templo de Júpiter, que queriam atrair o público de volta ao templo a qualquer custo.

Há uma indústria religiosa que se alimenta de mentiras, de dogmas inquestionáveis, e de superstições baratas.
É esta indústria que corre o risco de quebrar se a verdade do Evangelho for anunciada, e suas mentiras desmascaradas.

Os fiéis não passam de papagaios de pirata, repetindo o que ouvem sem ao menos refletir. Se dissermos que não há mais maldição a ser quebrada, o que será daqueles cuja prosperidade advém desta mentira? Como poderão cobrar para que as pessoas participem de um Encontro num sítio, a fim de que vejam a Deus cara a cara, e assim, sejam libertas de suas maldições?

Veja: compromissos são feitos em cima desses argumentos chulos. A prestação da propriedade adquirida pela igreja. O programa de rádio. O material de propaganda. O salário do pastor. Tudo isso tem que ser garantido pelo esquema montado. É um ciclo retro-alimentado. Se alguém chega pregando algo que contrarie o esquema, é logo taxado de herege, falso profeta, etc., pois interrompe o ciclo, produzindo um colapso na estrutura.

É isto que o Evangelho faz! Todas as estruturas injustas entram em colapso, para que um novo sistema, com engrenagens justas, se erga, tendo como centro o Trono da Graça de Deus.

Acorde, povo de Deus! Voltemos para as Escrituras! Abandonemos a mentira, o argumento falso, o estelionato, e voltemos à prática do primeiro amor. Caso contrário, Deus nos julgará, e reduzirá nossa indústria religiosa (que chamamos carinhosamente de “igreja”) aos escombros.


Não ficará pedra sobre pedra!


Postado por Hermes C. Fernandes



De Jacó para Israel: Uma transformação monumental



Mensagem pessoal de Dr.Eli Lizorkin

para Sérgio Gomes:   

Dr. Eli Lizorkin-Eyzenberg

De Jacó para Israel: Uma transformação monumental



Caro Sérgio Gomes, shalom!


Quando analisamos os nomes de personagens bíblicos em Hebraico, podemos ver coisas que não podem ser vistas na tradução. Como exemplo, temos a história de Jacó, que depois ficou conhecido como “Israel”. 

O nome Jacó em Hebraico (YAKoV) está conectado com a palavra para “calcanhar” (EKeV). Você deve lembrar que quando Esaú, o irmão gêmeo de Jacó, saiu a parteira não acreditava: O irmão de Esaú estava segurando ele pelo calcanhar, não deixando ele sair! Vendo o seu filho segurando seu irmão pelo calcanhar, Rebeca e Isaque o chamaram de Yakov (Jacó).

O nascimento de Jacó definiu seu nome até que outro evento de maior significado aconteceu – seu encontro pessoal com um mensageiro muito especial. O mensageiro é conhecido na Bíblia como o Anjo do SENHOR (Gen. 32).

Assim como no seu nascimento, Jacó agarrou outra pessoa novamente com força! No entanto, desta vez ao invés do seu irmão mais velho, era o Anjo do SENHOR. Depois, Jacó exigiu que ele lhe desse algo que nunca recebeu quando criança – a bênção divina que ele tanto valorizava e desejava com paixão. Vendo a persistência e compromisso intenso, o Anjo do SENHOR atendeu o pedido de Jacó e o abençoou.

Como sinal concreto da bênção, o Anjo do SENHOR deu para Jacó um nome completamente novo – Yisrael (Israel). O que significa Israel em Hebraico?

A palavra YiSRaEL é relacionada com o verbo leSRot, que em Hebraico Bíblico significa lutar, aspirar, exercer influência. Neste contexto, é para fazer todas estas coisas com o próprio Deus! Este evento da história mundial foi tão significante, que a nação descendente de Abraão, Isaque e Jacó foi nomeada depois deste encontro particular. Esses descendentes ficariam conhecidos para sempre como o Povo de Israel, o Povo que luta com Deus.


Sinceramente,

Dr. Eli 
Lizorkin 



Eli (“Dr. Eli”) Lizorkin-Eyzenberg é um Professor e Pesquisador de Estudos Judaicos e da Era Apostólica.

Ele é o escritor do blog popular Jewish Studies for Christians.

“Dr. Lizorkin-Eyzenberg é um grande pesquisador acadêmico.”
Prof. James H. Charlesworth,

Seminário Teológico de Princeton


segunda-feira, 21 de outubro de 2013

O Batismo do Espírito Santo



"E isto disse ele do Espírito que haviam de receber os que nele cressem; porque o Espírito Santo ainda não fora dado, por ainda Jesus não ter sido glorificado." Jo 7.39


"Você já recebeu o batismo do Espírito Santo?" Uma pessoa que se torna cristã em nossos dias mais cedo ou mais tarde ouvirá esta pergunta. Tal pergunta geralmente é feita pelos cristãos carismáticos, os quais são entusiastas a respeito das  experiências que têm com o Espírito Santo...
Uma doutrina que antigamente era mais confinada às igrejas Pentecostais e à Assembléia de Deus agora tem se tornado o ponto de central importância para um grande número de crentes. O movimento neo-pentecostal tem alcançado praticamente todas as denominações cristãs. Um senso de empolgação e de avivamento espiritual geralmente acompanha essa nova descoberta da presença e do poder do Espírito Santo na Igreja.
O neo-pentecostalismo procura definir a doutrina do batismo do Espírito Santo com base nas experiências das pessoas. Tal doutrina tem sido amplamente controvertida.
Geralmente, mas não sempre, os cristãos carismáticos consideram o batismo do Espírito Santo como uma segunda obra de graça, distinta e subseqüente à regeneração e à conversão. Os carismáticos estão divididos entre eles mesmos quanto à questão, se falar em línguas é um sinal necessário ou uma manifestação do "batismo".
Os pentecostais apontam para o padrão no livro de Atos, onde os crentes (os quais experimentaram a obra regeneradora do Espírito Santo antes do dia de Pentecostes) foram cheios do Espírito Santo e falaram em línguas. Este padrão bíblico, que inclui um lapso de tempo entre a conversão e o batismo do Espírito, é usado então como norma para todas as épocas.
Os pentecostais estão certos em ver certa distinção entre a regeneração pelo Espírito Santo e o batismo. Regeneração refere-se ao Espírito Santo dando nova vida ao crente - vivificando aquele que estava morto no pecado. O batismo do Espírito Santo refere-se a Deus capacitando seu povo para o ministério. Embora a distinção entre a regeneração e o batismo do Espírito Santo seja legítima, transforma o lapso de tempo entre ambos numa norma para todas as gerações é uma atitude improcedente. O padrão normal desde os dias dos apóstolos tem sido que os cristãos recebam a capacitação do Espírito Santo juntamente com a regeneração. Não é necessário que o crente busque uma segunda e especifica obra do batismo do Espírito depois da conversão. Todos cristão é cheio do Espírito, numa medida maior ou menor, dependendo da correspondência de consagração a ele.
Outro problema com doutrina pentecostal é que ela tem uma visão incorreta do Pentecostes, o qual é uma "linha divisória" na história do Novo Testamento. No Antigo Testamento, só alguns crentes selecionados foram dotados por Deus com dons para o ministério (ver Nm 11). Este padrão mudou no Pentecostes, quando todos os crentes presentes (todos judeus) receberam o batismo. Semelhantemente, nos derramamentos posteriores, os convertidos samaritanos (At 8), o crentes na casa de Cornélio (At 10) e os discípulos gentios de João Batistas que viviam em Éfeso (At 19), todos receberam o batismo do Espírito.
Os primeiros crentes não acreditavam que os samaritanos, os prosélitos e os discípulos de João Batista pudessem ser cristãos. Desta maneira, o batismo do Espírito Santo serviu como confirmação de sua membresia na Igreja. Visto que cada um desses grupos experimentou o batismo do Espírito Santo da mesma maneira que os judeus experimentaram no Pentecostes, a inclusão deles na Igreja era inquestionável. O próprio Pedro foi o primeiro a experimentar isso. Quando viu o Espírito Santo descer sobe os gentios tementes a deus na casa de Cornélio, ele concluiu que não havia nada que impedisse que fossem aceitos plenamente como membros da Igreja. Pedro disse: "Pode alguém porventura recusar a água, para que não sejam batizados estes, que também receberam como nós o Espírito Santo?" (At 10.47).

Os episódios subseqüentes do batismo do Espírito Santo, depois do Pentecostes devem ser entendidos como uma extensão do Pentecostes, por meio do qual todo o Corpo recebeu dons para o ministério. Na igreja do Novo testamento nem todos os cristãos falaram em línguas, mas todos os cristãos receberam dons do Espírito Santo. Desta maneira, se cumpriu a profecia de Joel (At 2.16-21).





Autor:  R. C. Sproul
Fonte: 2º Caderno Verdades Essenciais da Fé Cristã – R.C.Sproul. Editora Cultura Cristã. Compre este livro em http://www.cep.org.br



sexta-feira, 18 de outubro de 2013

Ecumenismo religioso: uma armadilha do Diabo





Houve um tempo em que o ecumenismo religioso era considerado um grande perigo para as igrejas cristãs. Pastores verberavam contra ele. E qualquer comunhão ecumênica entre evangélicos, católicos romanos e espíritas era inimaginável. Mas os tempos mudaram. Hoje, o relacionamento entre padres galãs e celebridades gospel é tão bom que estas até fornecem suas composições àqueles. Certa cantora gospel, inclusive, fez uma canção dedicada a Maria. Juntos, romanistas e evangélicos participam de shows ecumênicos e programas de auditório. “O que nos une é muito maior do que o que nos divide”, argumentam.

O ecumenismo — gr. oikoumenikós, “aberto para o mundo inteiro” — prega a tolerância à diversidade religiosa e a oposição a quem defende uma verdade exclusiva. Trata-se de uma armadilha de Satanás, com o objetivo de calar os pregadores da Palavra de Deus. Ele se baseia no princípio “democrático” de que cada pessoa possui a sua verdade. Mas o Senhor asseverou que não existe unidade motivada pelo amor divorciada da verdade da Palavra: “Se me amardes, guardareis os meus mandamentos. [...] Se alguém me ama, guardará a minha palavra” (Jo 14.15-24).

Causa estranheza o fato de uma parte do evangelicalismo moderno considerar o ecumenismo religioso biblicamente aceitável. Já ouço pastores dizendo: “A doutrina bíblica divide. É o amor que nos une. A igreja deve ser inclusiva”. A despeito de o Senhor Jesus ter afirmado: “Eu sou o caminho, e a verdade, e a vida” (Jo 14.6), está crescendo no meio evangélico a simpatia pelo movimento ecumênico. Nos Estados Unidos, pastores renomados deixaram de falar de Jesus com clareza. Pregam sobre Deus de maneira generalizante, a fim de não ofenderem romanistas, muçulmanos, budistas etc. E, no Brasil, alguns acontecimentos têm preocupado aqueles que ainda preservam a sã doutrina.
Recentemente, um conhecido pastor realizou — dentro de um templo evangélico! — um culto ecumênico juntamente com a liderança da Igreja da Unificação, do “reverendo” coreano Sun Myung Moon. “Qual é o problema de um pastor de renome ter amizade com o líder de uma seita? Afinal, todos devem se unir pela paz mundial”, alguém poderá dizer. Não devemos, de fato, odiar o “reverendo” Moon. Mas, como ter comunhão com alguém que, de modo blasfemo, desdenha do sangue derramado pelo Cordeiro de Deus, considerando-o insuficiente para nos purificar de todo o pecado? Moon também se considera um novo Messias que precisou vir ao mundo para concluir a obra que o Senhor não conseguiu realizar. Que blasfêmia! A Palavra de Deus não aprova esse tipo de aliança (2Co 6.14-18).

Outro exemplo de ecumenismo religioso é o envolvimento de pastores com o unicismo, uma seita que diz ter a “voz da verdade” e vem tendo livre acesso, através de suas celebridades, às igrejas evangélicas. O pentecostalismo da unicidade é herético, visto que se opõe à doutrina da Trindade, a base das principais doutrinas cristãs. Quem se opõe à tripessoalidade divina (confundindo-a com o triteísmo) nega não apenas a teologia, mas também a própria Bíblia (Gn 1.26 e Jo 14.23), o cristianismo (Mt 28.19 e 2Co 13.13), a deidade do Espírito Santo (Jo 14.16-17 e 16.7-10), a clara distinção entre o Pai e o Filho (Jo 5.19-47 e 14.1-16) e o plano da redenção da humanidade (Jo 3.16 e 17.4-5). Atentemos para a verdadeira voz da verdade, a do Bom Pastor: “As minhas ovelhas ouvem a minha voz” (Jo 10.17).

Pastores e cantores, por falta de vigilância ou movidos por interesses pessoais, estão se prendendo a jugos desiguais com os infiéis, deixando-se enganar pelo ecumenismo religioso. A maior emissora de televisão do Brasil — que sempre estereotipou e ridicularizou os evangélicos — descobriu que nem todos os cristãos são “extremistas” e “fanáticos”. Há um grupo de celebridades gospel que não tem coragem de dizer clara e objetivamente que o Senhor Jesus é o único Mediador entre Deus e os homens (1Tm 2.5 e At 4.12).

Em um programa dominical, certa “pastora” resolveu tripudiar sobre os seus “inimigos”, rodopiando com baianas e cantando com sambistas no ritmo das religiões afro-brasileiras. Enquanto ela dançava, a apresentadora, seus convidados e a platéia riam sem parar, numa grande celebração. Que tipo de evangelho “agradável” e “inclusivo” é esse? Lembrei-me imediatamente do que o Senhor Jesus disse, em Mateus 5.11-12: “Bem-aventurados sois vós, quando vos injuriarem e perseguirem, e mentindo, disserem todo o mal contra vós por minha causa. Exultai e alegrai-vos, porque é grande o vosso galardão nos céus; porque assim perseguiram os profetas por minha causa”.

Há poucos dias, uma conhecida cantora gospel admitiu, de modo tácito, que o sincretismo religioso é aceitável. Ao concordar com a seguinte frase, dita por um famoso apresentador: “O Caldeirão é uma mistura de religiões”, ela respondeu: “Tem espaço pra todo mundo”. E o pior: depois, escreveu nas redes sociais que se sentiu como Paulo no Areópago... Ora, esse apóstolo não pregou a convivência ecumênica nem apresentou uma mensagem que os atenienses queriam ouvir. Ele disse o que todos precisavam ouvir. Ao chegar a Atenas, “o seu espírito se comovia em si mesmo, vendo a cidade tão entregue à idolatria” (At 17.16). Já a aludida celebridade, deslumbrada, estava sorridente e saltitante.

Tenho visto muitos incautos felizes pelo fato de celebridades gospel estarem aparecendo na televisão. Mas não nos iludamos, pois a porta não foi aberta para o Evangelho. O que existe, na verdade, é um projeto ecumênico em andamento, o qual visa a enfraquecer a pregação de que o Senhor Jesus é o único Salvador. Tais celebridades — certamente, orientadas a não falar claramente da salvação em Cristo — têm empregado bordões antropocêntricos, que massageiam o ego das pessoas. Elas não têm a coragem de confrontar o pecado. E apresentam um evangelho light, agradável, apaziguador, simpático, suave, aberto ao ecumenismo.


O que está escrito em 1Coríntios 16.9? “Porque uma porta grande e eficaz se me abriu, e há muitos adversários”. Quando Deus verdadeiramente abre-nos a porta da pregação do Evangelho, como a abriu para o apóstolo Paulo, os adversários — Satanás, os demônios e todos os seus emissários — se voltam contra nós. Mas a mídia está aplaudindo de pé esse “outro evangelho” aberto à convivência ecumênica. Preguemos, pois, como Paulo, nesse mundo, que é um grande caldeirão religioso: “Deus, não tendo em conta os tempos da ignorância, anuncia agora a todos os homens, em todo lugar, que se arrependam” (At 17.30).


Fonte: Ciro Sanches Zibordi


quarta-feira, 16 de outubro de 2013

O Julgamento de Nosso Senhor perante o Sinédrio



Sermão pregado na manhã de domingo, 5 de fevereiro de 1882,
Por Charles Haddon Spurgeon,


No Tabernáculo Metropolitano, Newington, Londres.


“E todos o consideraram culpado de morte.”Marcos 14:64.

Seleciono esta frase em particular porque o costume exige um texto; mas na realidade seguiremos a narrativa inteira do julgamento de nosso Senhor diante do sumo sacerdote. Veremos como o Sinédrio chegou à sua injusta sentença, e mais o que fizeram posteriormente, assim, em um só sentido, estaremos nos apegando ao nosso texto. Acabamos de ler três passagens: João 18:12-24; Marcos 14:53-65; e Lucas 22:66-71. Por favor, tenham estas passagens em mente enquanto repasso a infeliz história.
A narração da aflição de nosso Senhor, se a estudamos cuidadosamente, é extremamente desoladora. Uma pessoa não pode meditar nisto por muito tempo sem derramar lágrimas; de fato, eu me vi forçado a abandonar minhas meditações sobre este tema devido ao excesso de emoção. Contemplar os sofrimentos de um Ser tão desejável em Si mesmo e tão amoroso para conosco, é suficiente para fazer com que o coração se parta por completo. Contudo, esta desolação de sentimentos é sumamente útil: seu efeito posterior é na verdade, admirável.
Depois de chorarmos por Jesus somos transportados acima da nossa dor. Não há em absoluto nenhuma consolação debaixo do céu como esta, pois as aflições de Cristo eliminam o aguilhão de nossas próprias aflições, e as tornam inofensivas e toleráveis. Uma sofrida contemplação da aflição de nosso Senhor diminui de tal maneira nossas angústias, que chegamos a considerá-las como ligeiras aflições, triviais demais, demasiadamente insignificantes para serem mencionadas no mesmo dia. Quando acabemos de contemplar os agudos quebrantos do Varão de Dores, não nos atreveremos a registrar-nos de forma alguma na lista dos afligidos. As feridas de Jesus destilam um bálsamo que cura todos os ferimentos fatais. E isto não é tudo, ainda que seria muito em um mundo de angústia como este; mas há um estímulo incomparável no que é relativo à paixão do Senhor. Mesmo que tenham sido quase esmagados pelo quadro das agonias de seu Senhor, saíram de lá fortes, decididos, fervorosos, consagrados.
Nada comove mais as profundezas de nossos corações como a angústia de Seu coração. Nada é demasiado difícil para que o tentemos ou o suportemos por Aquele que se sacrificou a Si mesmo por nós. Ser vilipendiados pela amada causa de quem sofreu tanta vergonha por nós, não se converte em uma grande aflição; incluso o opróbrio, quando é suportado por Ele, se torna em maiores riquezas que todos os tesouros do Egito. Sofrer por Ele no corpo e na mente, incluso até a morte é um privilégio muito mais que uma exigência: tal amor inflama nossos corações de tal forma, que ansiamos veementemente encontrar uma forma de expressar nosso débito. Aflige-nos pensar que nossas melhores intenções sejam uma coisa muito pequena; mas estamos solenemente decididos a não dar nada que não seja o melhor de nós a Quem nos amou e se entregou por nós.
Eu creio também que, frequentemente, muitos corações indiferentes foram grandemente afetados pelos sofrimentos de Jesus: foram perturbados em sua indiferença, convencidos da sua ingratidão, separados de seu amor pelo pecado, e atraídos a Cristo ao escutar o que Ele suportou no seu lugar. Nenhum ímã pode atrair aos corações humanos como a cruz de Cristo. Suas feridas ocasionam que até corações de pedra sangrem. Sua afronta envergonha a própria obstinação. Os homens não caem tão abundantemente frente ao grandioso arco de Deus, como quando suas flechas são encharcadas com o sangue de Jesus. Esses dardos que estão armados com Suas agonias, causam feridas que nunca podem ser curadas, exceto por Suas próprias mãos traspassadas. Estas são as armas que matam o pecado e salvam o pecador, eliminando de um só golpe tanto sua confiança em si mesmo como seu desespero, convertendo-o em um cativo desse conquistador cuja glória é tornar os homens livres.
Esta manhã, não quero pregar somente as doutrinas que saem da cruz, mas sim a  cruz mesma. Eu suponho que essa foi uma das grandes diferenças entre a primeira pregação de todas e a pregação depois da Reforma. Depois da Reforma ressoavam claramente desde todos os púlpitos a doutrina da justificação pela fé e outras gloriosas verdades, que eu espero que recebam mais e mais relevância; mas os primeiros pais da igreja proclamaram as mesmas verdades de uma maneira menos teológica. Se eles tratavam pouco sobre a justificação pela fé, pregavam com maravilhosa profusão sobre o sangue e seu poder limpador, sobre as feridas e sua eficácia curadora, sobre a morte de Jesus e nossa vida eterna. Nós retomaremos seu estilo por uns momentos, e pregaremos os fatos sobre nosso Senhor Jesus Cristo, em vez de falar sobre suas inferências doutrinárias. Oh, que o Espírito Santo leve as aflições de nosso Senhor tão perto de cada coração, que cada um de nós conheça a comunhão com Seus sofrimentos, e possua fé em Sua salvação e um reverente amor pela Sua pessoa.

I. Começaremos nossa narrativa esta manhã, pedindo-lhes primeiro, que pensem no INTERROGATÓRIO PRELIMINAR DE NOSSO BENDITO SENHOR E MESTRE, REALIZADO PELO SUMO SACERDOTE. Eles trouxeram a nosso Senhor desde os limites do jardim; e quando o trouxeram, o sujeitavam firmemente, pois lemos: “os soldados do presidente, conduzindo Jesus.” Evidentemente estavam temerosos do prisioneiro, mesmo quando o tinham inteiramente em seu poder. Ele era toda benignidade e submissão; mas a consciência acovardava a todos eles, e por isso tinham todo o cuidado que os covardes empregam para mantê-lo entre suas garras. Como a corte não havia se reunido em número suficiente para um interrogatório geral, o sumo sacerdote decidiu que ocuparia o tempo interrogando pessoalmente a seu prisioneiro.
Principiou seu maligno exercício. O sumo sacerdote perguntou a Jesus coisas sobre Seus discípulos. Não podemos dizer quais foram as perguntas, mas eu suponho que eram algo parecido com isto: “Como foi que te rodeaste de um grupo de homens? Que faziam eles contigo? Que pensavas conseguir com eles? Quem eram eles? Não eram um grupo de fanáticos, homens descontentes e prontos para a sedição?” Eu não sei como o astuto Caifás faria suas perguntas; mas o Salvador não deu resposta a esta indagação particular. Que poderia ter dito se houvesse tentado responder? Ah, irmãos, que coisa boa teria dito de Seus discípulos? Podemos ter certeza que Ele não diria nada de mau. Mas poderia ter dito: “no que se refere a meus discípulos, um deles me traiu; ainda tem em sua mão o dinheiro de sangue que vocês pagaram e ele por mim. Outro deles, ali no pátio, antes que cante o galo, negará que me conheceu alguma vez, e agregará juramentos e maldições em sua negação: quanto aos demais, todos me abandonaram e fugiram.” Portanto, nosso Senhor não disse nada acerca de Seus discípulos, pois não se converteria em acusador dos Seus, pois Ele não veio condená-los, e sim, justificá-los.
O sumo sacerdote também Lhe perguntou coisas sobre Sua doutrina. Eu suponho que Lhe perguntaria: “que novo ensinamento é este? Por acaso nós não somos capazes para ensinar ao povo: já que os escribas são tão entendidos na lei, os fariseus são tão cuidadosos do ritual e os saduceus são tão filosóficos e especulativos? Por que precisas te infiltrar neste domínio? Eu te considero somente um pouco mais que o filho de um camponês: qual é esse estranho ensinamento teu?” A esta indagação sim, nosso Senhor respondeu, e que triunfante resposta deu! Oh, que sempre pudéssemos falar, quando é conveniente falar, tão mansa e sabiamente como Ele! Ele lhe respondeu: “Eu publicamente falei ao mundo; sempre ensinei na sinagoga e no templo, onde se reúnem todos os judeus, e nada falei em  oculto. Por que perguntas a mim? Pergunta aos que ouviram, o que foi que eu falei; aqui estão, eles sabem o que eu disse.” Oh, irmãos, nenhuma réplica à calúnia pode comparar-se com uma vida irrepreensível. Jesus tinha vivido no pleno resplendor do dia onde todos podiam vê-lo, e, contudo, foi capaz de desafiar a acusação e dizer: “Pergunta aos que escutaram.” Bem-aventurado é o homem que não tem necessidade de defender-se porque suas obras e palavras são sólidos testemunhos de sua retidão e bondade. Nosso Salvador respondeu ao Seu interrogador muito pacientemente, e, contudo, muito eficazmente, apelando para os fatos. Ele se apresenta diante de nós tanto como o espelho da mansidão como o paradigma da perfeição, e a calúnia se retorce a Seus pés como uma serpente ferida. Que grande deleite é contar com este triunfante intercessor como nosso advogado, que argumenta Sua própria justiça em nossa defesa! Ninguém poderia impugnar Sua absoluta perfeição, e essa perfeição cobre todos Seus santos neste dia.
Quem nos acusará, agora que Cristo decidiu interceder por nós? Esta esmagadora resposta, contudo, trouxe sobre o Salvador uma bofetada de um dos oficiais do tribunal que estava ali. Este ato não foi sumamente repulsivo? Aqui nós temos a primeira de uma nova categoria de agressões. Até este ponto não havíamos nos inteirado de bofetadas e golpes; mas agora se cumpriu o que foi dito: “ferirão com vara na face ao juiz de Israel.” Esta foi a primeira de uma longa série de agressões. Eu me pergunto quem seria o homem que esbofeteou o Senhor desta maneira. Eu desejaria que a réplica do Senhor para com ele pudesse ter influenciado seu coração a ponto de arrepender-se; mas, se assim não fosse, com certeza estava à frente da caravana de agressões pessoais dirigidas contra a pessoa de nosso Senhor: sua mão ímpia foi a primeira a golpeá-lo. Seguramente morreu na impenitência, a lembrança desse golpe permanecerá como um verme que nunca morre dentro dele. Hoje grita: “eu fui o primeiro a golpeá-lo: Eu golpeei Sua boca com a palma da minha mão.”
Os escritores de antigamente que escreveram sobre a Paixão, nos dão diversos detalhes das lesões infligidas contra o Salvador por esse golpe; mas nós não lhe outorgamos nenhuma importância a tais tradições, portanto, não as citaremos, mas diremos simplesmente que havia uma crença generalizada na igreja que este golpe foi muito cruel, e causou muita dor ao Salvador. Contudo, ainda que tenha sentido esse golpe, e talvez foi sacudido por ele, o Senhor não perdeu Sua compostura, nem mostrou o menor ressentimento. Sua resposta foi tudo o que deveria ser. Não há nenhuma palavra em demasia. Ele não diz: “Deus te golpeará a ti, parede caiada!” como o apóstolo Paulo fez. Nós não censuraremos o servo, mas louvaremos muito mais ao Senhor. Ele disse mansamente: “Se falei mal, dá testemunho do mal; e, se bem, por que me feres?”
Isso bastaria, com certeza, se houvesse ficado algum remanescente de benevolência no coração do agressor, para fazê-lo mover sua mão até o seu peito movido por uma dor penitencial. Nós não nos surpreenderíamos se tivesse clamado: “me perdoe, oh Tu, que és divinamente manso e benevolente, e me permita desde este momento ser Teu discípulo.” Desta maneira vimos a primeira parte dos sofrimentos de nosso Senhor na casa do sumo sacerdote, e a lição dela é justamente esta: sejamos mansos e humildes de coração como foi o Salvador, pois ali reside Sua força e dignidade. Vocês me dirão que eu já disse isso antes. Sim, irmãos, e terei que dizê-lo muitas vezes mais diante de vocês e aprendi bem a lição. É difícil ser manso quando alguém é falsamente acusado, ser manso quando alguém é duramente interrogado, ser manso quando um astuto adversário está à caça, ser manso quando alguém se encolhe ao receber um golpe atroz que foi uma afronta para uma corte de justiça. Vocês escutaram da paciência de Jó, mas aquela paciência perde a cor diante da paciência de Jesus. Admirem Sua paciência, mas não se contentem em admirar, imitem Seu exemplo, descrito abaixo deste cabeçalho e sigam cada curso.
Oh Espírito de Deus, ainda tendo Cristo como exemplo, não aprenderemos a mansidão a menos que Tu nos ensines; e ainda tendo a Ti como um mestre, não a aprenderemos a menos que tomemos Seu jugo sobre nós e aprendamos d'Ele; pois é unicamente a Seus pés, e debaixo da Tua unção divina que nos tornaremos mansos e humildes de coração, e acharemos descanso para nossas almas.
Por tanto, o interrogatório preliminar foi concluído, e não foi finalizado em absoluto como um êxito para o sumo sacerdote. Ele interrogou Jesus e o golpeou, mas a provação não produz nada que possa contentar o adversário. O prisioneiro é supremamente vitorioso, já que o agressor foi frustrado.
II. Agora vem uma segunda cena, A BUSCA DE TESTEMUNHAS CONTRA ELE. “E os principias dos sacerdotes e todo o concílio buscavam algum testemunho contra Jesus, para o matar, e não o achavam.” É uma estranha corte a que se reúne com o desígnio de encontrar culpa no prisioneiro, decididos, de uma forma ou outra a conseguir sua morte. Eles devem proceder de acordo às normas da justiça, e assim substituem testemunhas, ainda que todo o tempo violem o espírito da justiça, pois vasculham Jerusalém para encontrar testemunhas que cometam perjúrio para acusar o Senhor. Cada membro do concílio escrevia o nome de alguém que pudesse ser trazido de fora, pois as pessoas tinham vindo de todas as partes da terra para guardar a Páscoa, e com certeza alguns poderiam ser rastreados, em um lugar ou outro, que lhe dissessem alguma coisa que pudesse ser acusável. Introduzem, portanto, a todo a quem que possa encontrar dessa classe degradada que se aventure a cometer perjúrio, se houvesse um suborno disponível. Eles vasculharam Jerusalém para descobrir testemunhas contra Jesus; mas tinham muita dificuldade para ter êxito em seu desígnio, porque estavam obrigados a examinar a testemunha à parte, e não podiam fazer que concordassem. É difícil conseguir que as mentiras concordem, mas em troca, as verdades são cortadas com o mesmo molde.
Além disso, havia muitos tipos de testemunhas que podiam ser encontradas com facilidade, mas não se atreviam a apresentá-los. Tinham muitas pessoas que poderiam testemunhar que Jesus tinha falado contra a tradição dos anciãos; mas quanto a isso, havia alguns no concílio, isto é, os saduceus, que estavam de acordo com Ele em grande parte. Não tinha lógica apresentarem uma acusação sobre a qual não tinham uma unanimidade consensual. Suas denúncias dos fariseus não podiam ser apresentadas como acusação, pois estas estavam de acordo com os saduceus; tampouco podiam alegar Seu clamor contra os saduceus, pois nisto, os fariseus estavam de acordo com Ele.
Vocês lembrarão como Paulo, quando foi apresentado diante desse Sinédrio, se aproveitou dessa divisão de opinião e clamou: “Eu sou fariseu, filho de fariseu; no tocante à esperança e ressurreição dos mortos, sou julgado”; e desta maneira criou uma dissensão no conclave, que por um tempo trabalhou a seu favor. Nosso Senhor se apossou de um terreno mais elevado e mais nobre, e não se inclinou para converter a insensatez deles em algo que o beneficiaria; contudo, estando eles conscientes de suas dissensões internas, evitaram cautelosamente esses pontos sobre os quais não estavam em harmonia. Eles poderiam apresentar sua antiga queixa de que o Senhor Jesus não observava o sábado à maneira deles; mas, então, se tornaria mais público o fato de que havia curado enfermos no dia de sábado. Não os ajudaria em nada publicar este fato, pois, quem pensaria em matar uma pessoa por ter ela aberto os olhos a um cego de nascença, ou por ter restaurado uma mão seca em um sábado? Esse tipo de testemunho foi, portanto, descartado.
Mas, não poderiam ter encontrado algumas testemunhas que jurassem que Ele havia falado sobre um reino que estava estabelecendo? Não poderia isto, ter sido imediatamente interpretado como uma incitação à sedição e rebelião? Sim, mas essa era uma acusação que teria de ser submetida ao Tribunal Cível de Pilatos, mas a Sua acusação era em um tribunal eclesiástico. Além disso, havia herodianos no concílio que estavam muito inquietos debaixo do jugo romano, e não poderiam ter a cara de condenar alguém por ser um patriota; e, ademais, o povo que estava fora, teria simpatizado muito mais com Jesus se tivessem suposto que Ele os guiaria em uma rebelião contra César. Portanto, eles não podiam forçar esse ponto. Devem ter se sentido grandemente confundidos sem saber o que fazer; especialmente quando incluso naqueles pontos os quais decidiram apresentar às testemunhas, tão logo abriam suas bocas, se contradiziam entre si.
Por fim as tinham. Apareceram dois cuja evidência mais ou menos concordava; E estes afirmaram que numa determinada ocasião, Jesus tinha dito: “Eu derrubarei este templo, construído por mãos de homens, e em três dias edificarei outro, não feito por mãos de homens.” Aqui havia uma blasfêmia contra a santa e bela casa do Senhor, e isso bastaria. Agora, o Salvador tinha dito algo que era semelhante ao testemunho destas falsas testemunhas, e um mal entendido tinha feito tudo ainda mais semelhante; mais ainda assim, o que essas testemunhas falaram era uma mentira, e não era menos mentira porque havia uma sombra de verdade, pois o pior tipo de mentira é aquela produzida a partir de uma verdade: causa um dano muito maior que se fosse uma falsidade de início ao fim.
O Salvador não tinha dito: “Eu vou destruir este templo”; Ele disse: “Derribai este templo,” ou seja, “Vocês o destruirão, e podem destruí-lo.” Ele não tinha se referido ao templo de Jerusalém; Ele falou sobre o templo do Seu corpo que seria destruído. Cristo nunca disse: “Destruí este templo feito a mão, e edificarei outro feito sem mãos”: na Sua linguagem não há nenhuma alusão às mãos em absoluto. Estes refinamentos procediam da própria invenção deles, e Sua linguagem não tinha nenhum vínculo com a deles. Ele não tinha dito: “Eu edificarei outro”; Ele havia dito: “o levantarei,” que é algo muito diferente. Ele queria dizer que Seu corpo, depois de ser destruído, seria outra vez levantado no terceiro dia. Eles tinham alterado uma palavra aqui e outra acolá, o modo de um verbo e a forma de outro, e assim colocaram palavras na boca de Jesus, que Ele nunca havia pensado. Contudo, inclusive na acusação, não concordavam. Um disse uma coisa a respeito, e outro disse outra, de tal forma que inclusive esta vil acusação não podia ser utilizada contra o Salvador. Sua falsidade remendada estava feita de um material tão podre que as peças não se sustentariam juntas. Eles estavam prontos a jurar qualquer coisa que viesse à suas mentes que cometiam perjúrio, mas não se podia conseguir que dois deles jurassem pelo mesmo testemunho.
No entanto o Senhor permanece calado; como ovelha diante de Seus tosquiadores, emudeceu, e não abriu Sua boca; e eu suponho que a razão foi em parte para cumprir a profecia, e, em parte, porque a grandiosidade de Sua alma não poderia rebaixar-se a contender com mentirosos, e sobre tudo, porque Sua inocência não necessitava nenhuma defesa. O que é culpado em alguma medida, está ávido por desculpar-se e arranjar as coisas: suas desculpas sugerem usualmente aos homens experientes a crença de que poderia haver alguma base para a acusação. O que é perfeitamente inocente não tem nenhuma pressa para responder aos seus caluniadores, pois logo eles se respondem entre si. Nosso Senhor não desejava entrar em uma pendência com eles, para não provocá-los a expressar mais falsidades. Se as palavras não podem ajudar, então, na verdade, o silêncio é sábio: quando o único resultado havia sido provocar Seus inimigos a incrementar suas iniquidades, foi uma compaixão magnânima a que conduziu o caluniado Salvador a não dizer nada.
Não devemos deixar de advertir o consolo que em alguma medida havia sido ministrado a Nosso Senhor pela acusação que foi apresentada como a melhor. Ele está ali, e sabe que estão a ponto de sentenciá-lo à morte, mas eles mesmos O lembram que o poder deles sobre Ele tem um contrato de arrendamento não maior de três dias, e ao final desse curto período, Ele será levantado de novo, e já não estará mais à sua disposição. Seus inimigos lhe deram testemunho da ressurreição. Não digo que Sua memória fosse fraca, ou que possivelmente tivesse esquecido em meio às Suas aflições, mas, contudo, nosso Senhor era humano, e algumas formas de consolo que são valiosos para nós, eram úteis para Ele.
Quando a mente é torturada com uma falsidade maliciosa, e o homem inteiro é sacudido por dores e aflições, é bom que nos lembrem das consolações de Deus. Lemos sobre alguns que foram “atormentados, não aceitando o resgate,” e foi a esperança da ressurreição o que os sustentou. Nosso Senhor sabia que Sua alma não seria deixada nas moradas da morte, e que Sua carne não veria corrupção, e as falsas testemunhas trouxeram isto vividamente diante de Sua mente. Agora, na verdade, nosso Redentor podia dizer: “Derribai este templo, e em três dias o levantarei.” Estes corvos trouxeram ao Salvador pão e carne. Nestes leões mortos nosso glorioso Sansão encontrou mel. Sustentado pelo gozo colocado diante Dele, despreza a vergonha. Estranho é que das bocas daqueles que buscavam Seu sangue, veio o memorial de uma de Suas maiores glórias.
Agora, irmãos, até aqui aprendemos outra vez a mesma lição, ou seja, cresçamos em mansidão, e a demonstremos guardando silêncio. A eloquência é difícil de adquirir, mas o silêncio é muito mais difícil de praticar. Um homem pode aprender mais rápido a falar bem que a não falar de tudo. Temos tanta pressa por reivindicar nossa própria causa que a estragamos com uma linguagem irrefletida: se fôssemos calmos, benevolentes, tranquilos, pacientes como foi o Salvador, nosso caminho para a vitória seria muito mais fácil.
Observem, ademais, a armadura que cobria Cristo: vejam o escudo invulnerável de Sua santidade. Sua vida era tal que a calúnia não podia armar uma acusação contra Ele que durasse o suficiente para poder ser repetida. As acusações eram tão frágeis, que, como borbulhas, se desvaneciam tão rapidamente como viam a luz. Os inimigos de nosso Senhor estavam totalmente desconcertados. Eles lançavam seus dardos contra Ele, e como se caíssem sobre um escudo de ardente diamante, cada flecha era quebrada e consumida.
Aprendamos também esta outra lição: que seremos distorcidos. Podemos contar que, para ouvidos hostis, nossas palavras terão outros significados que aquele que nos propúnhamos dar; podemos esperar que quando ensinamos uma coisa que é verdadeira, eles inventarão que expressamos outra coisa que é falsa; mas não devemos temer esta prova de fogo como se fosse algo estranho. Nosso Senhor e Mestre a suportou e os servos não escaparão dela. Portanto, suportem a aspereza como bons soldados de Jesus Cristo, e não tenham medo. No meio do estrépito destas mentiras e perjúrios, escuto o assobio pacífico e delicado de uma verdade sumamente preciosa, pois a semelhança de quando Jesus esteve diante do tribunal por nós, e eles não podiam confirmar alguma acusação sobre Ele, assim será quando estejamos Nele no último grande dia, lavados em Seu sangue e cobertos com Sua justiça, nós também seremos absolvidos. “Quem acusará os eleitos de Deus?” Se Satanás se apresentasse como o acusador dos irmãos, seria recebido pela voz: “O Senhor te repreenda, oh Satanás; sim, o Senhor que escolheu Jerusalém, te repreenda. Não é este um tição tirado do fogo?” Sim, amados, nós também seremos absolvidos da calúnia.
Então os justos resplandecerão como o sol no reino de seu Pai. A gloriosa justiça Daquele, que foi falsamente acusado, livrará os santos e toda iniquidade fechará sua boca.
III. Mas não devo demorar-me demasiado em temas como estes, e, portanto, prossigo AO INTERROGATÓRIO PESSOAL que se seguiu ao fracasso de querer apresentar testemunhas. O sumo sacerdote, demasiadamente indignado para ficar sentado, se põe de pé e se inclina sobre o prisioneiro como um leão rugindo sobre sua presa, e começa a interrogá-lo de novo. Estava fazendo algo injusto. Por acaso o juiz que tem por ofício administrar a lei, se daria ao trabalho de demonstrar a culpabilidade do prisioneiro, ou, o que é pior, trataria de extrair uma confissão do acusado que pudesse ser usada contra ele? Isto implicava uma confissão tácita de que se tinha demonstrado a inocência de Cristo até esse momento. O sumo sacerdote não teria necessidade de tirar algo do acusado se houvesse tido material suficiente contra ele por outro lado. O julgamento havia sido um completo fracasso até esse ponto, e ele o sabia, e estava roxo de raiva. Agora ele tenta intimidar o prisioneiro, para poder arrancar-lhe alguma declaração que pudesse resolver qualquer problema de conseguir testemunhas, e assim liquidar o assunto.
A pergunta foi formulada com uma solene intimação, e alcançou seu propósito, pois o Senhor Jesus de fato falou, ainda que soubesse que com isso estava proporcionando uma arma contra Si. Ele se sentiu obrigado a responder ao sumo sacerdote de Seu povo quando usou tal encantamento, apesar de que esse sumo sacerdote era um homem mau; e não podia escapar de uma acusação tão solene para que não parecesse que por Seu silêncio estava negando a verdade sobre a qual está assentada a salvação do mundo.
Assim que, quando o sumo sacerdote lhe perguntou: “És tu o Cristo, filho do Deus Bendito?”, quão clara e franca foi a resposta do Senhor. Ainda que Ele sabia que isto acarretaria a Sua morte, deu testemunho de uma boa confissão. Ele claramente disse: “Eu o sou,” e logo acrescentou à essa declaração: “e vereis o Filho do Homem”—e desta maneira expõe Sua humanidade bem como Sua deidade—“assentado à direita do poder de Deus, e vindo sobre as nuvens do céu.”
Que fé tão majestosa! É maravilhoso pensar que estivesse tão calmo como para confrontar aos que zombavam Dele, e reivindicar Sua glória quando se encontrava sumido nas profundezas da vergonha. Foi como se dissesse: “vocês estão servindo como meus juízes, mas logo Eu estarei julgando-os: pareço a vocês um insignificante camponês, mas Eu sou o Filho do Deus Bendito; vocês creem que me esmagarão, mas nunca o farão; pois logo me sentarei à destra do poder de Deus, e virei nas nuvens do céu.” Ele falou com audácia, como era apropriado. Eu admiro a mansidão que podia estar calada, e admiro a mansidão que podia falar suavemente, mas admiro muito mais a mansidão que podia falar com valentia, mas que continuava sendo mansa.
De uma maneira ou outra, quando nós respondemos com valentia, deixamos a dureza entrar pela mesma porta, ou se deixamos de fora nossa ira, somos propensos a esquecer nossa firmeza. Jesus nunca elimina uma virtude para dar espaço à outra. Seu caráter é completo, íntegro, perfeito, de qualquer maneira em que O vejamos. E seguramente, irmãos, isto deve ter trago outro doce consolo para o coração de nosso divino Mestre. Enquanto se encolhia debaixo desse duro golpe, enquanto se retorcia sob essas imundas acusações, enquanto suportava tal contradição de pecadores contra Ele, deve ter se sentido internamente satisfeito na consciência de Sua condição de Filho e Seu poder, e diante da perspectiva de Sua glória e triunfo. Um manancial de água brota de dentro de Sua alma por saber antecipadamente que se sentará à destra de Deus, e que julgará os vivos e os mortos, e que reivindicará os Seus redimidos.
É sábio ter estes consolos sempre à mão. O inimigo poderia não ver Seu poder consolador, mas nós sim o vemos. Para nós, de debaixo do altar procede um rio cujo suave fluir provê uma tranquila alegria a nossos espíritos. Alegria essa que as águas terrenas não podem competir. Mesmo agora ainda ouvimos o que o Pai diz: “Eu sou o teu escudo, o teu grandíssimo galardão.” Notem, antes que deixemos este ponto, que, praticamente, o julgamento e o interrogatório terminaram com a condenação de nosso Senhor, devido a ter confessado Sua deidade. Eles disseram: “Vós ouvistes a blasfêmia; que vos parece? E todos o consideraram culpado de morte.”
Eu não posso entender totalmente essas pessoas que se chamam ‘unitarianos’ e negam a deidade de nosso Senhor. Nós também somos unitarianos, pois cremos em um Deus, e em um único Deus; mas eles nos dizem que este Cristo bendito, nosso Senhor, não é Deus, e, contudo, reconhecem que Ele foi o mais excelente dos homens, o mais perfeito dos seres humanos. Eu não posso vê-lo assim.  Eu pensaria que é um blasfemador, e nada mais, se não fosse Deus; e os judeus, evidentemente, sustentavam essa opinião, e o tratavam de acordo com isso. Se Ele não tivesse dito que Deus era Seu Pai, eles não estariam tão zangados com Ele. Eles o condenaram à morte devido à afirmação de Sua deidade, e a declaração de que se sentaria à destra do Poder e julgaria o mundo.
Hoje em dia, multidões estão dispostas a aceitar Cristo como um mestre, mas não o aceitarão como o Filho de Deus. Eu não tenho dúvidas de que a religião cristã poderia ser recebida em muitos lugares se a sua força fosse tosquiada, se, de fato, sua própria alma e suas entranhas fossem arrancadas, ao proclamar Jesus como um dos profetas e nada mais. Vejam como nossos sábios falam Dele como alguém de uma linha de grandes reformadores, assim como Moisés, Samuel, Elias, e com frequência adicionam a Confúcio e a Maomé. Nós abrimos espaço para isto? Não, nem por um instante. Ele verdadeiramente é o Filho do Deus Bendito. Ele é divino. A acusação de blasfêmia deveria ser lançada contra Ele, se não fosse o Filho do Altíssimo.
IV. Agora devemos continuar e nos fixar por um segundo ou dois no tema da CONDENAÇÃO. O condenaram por Sua própria boca: mas isto, ainda que tivesse uma aparência de justiça, era realmente injusto. Diante do tribunal, o prisioneiro afirmou que Ele é o Filho de Deus. Qual é o problema? Por acaso não pode estar dizendo a verdade? Se for verdade, Ele não deve ser condenado e sim, adorado. A justiça requer que se faça um interrogatório para verificar se é o Cristo, o Filho do Bendito, ou não. Ele reclamou ser o Messias. Muito bem, todos os que estão na corte, estão esperando o Messias; alguns deles esperam que apareça logo. Não poderia ser este o enviado do Senhor? Que se faça um interrogatório de seus argumentos. Qual é sua linhagem? Onde nasceu? Algum dos profetas o confirmou? Fez milagres? Algumas dessas perguntas são devidas a qualquer homem cuja vida esteja em jogo.
Não podem condenar à morte justamente a um homem sem um exame que se adentre na verdade de sua defesa, pois poderia resultar que seus pronunciamentos fossem corretos. Mas não, eles não querem escutar ao homem que odeiam, e sua mera afirmação o condena; é blasfêmia, e deve morrer. Ele afirma ser o Filho de Deus. Vamos, então, Caifás e o concílio, convoquem testemunhas para a defesa. Perguntem se olhos cegos foram abertos, e se os mortos foram ressuscitados. Perguntem se Ele fez milagres tais como ninguém jamais fez no meio de Israel ao longo de todos os tempos. Por que não fazer isto? Oh, não, pela prisão e julgamento Ele será tirado, e Sua geração, quem a contará? Quanto mais curto o interrogatório, mais fácil será condená-lo injustamente. Ele disse que é o Cristo e o Filho de Deus, portanto, é digno de morte.
Ai, quantos há que condenam a doutrina de Cristo sem fazer as devidas investigações sobre ela; e a condenam pelos argumentos mais triviais. Vêm para escutar um sermão, e talvez encontram falhas nos gestos do pregador, como se isso  bastasse para negar a verdade que ele prega; ou talvez digam “isto é muito estranho; não podemos crer.” Por que não? Por acaso as coisas estranhas não são verdadeiras algumas vezes, e não são muitas verdades demasiado estranhas até que se familiarize com elas? Estes homens não querem condescender a ouvir a demonstração da confirmação de Cristo: não querem fazer nenhuma pergunta. E assim, como os sacerdotes judeus, praticamente gritam: “Morra! Morra!”
Ele é condenado à morte, e o sumo sacerdote rasga sua roupa. Eu não sei se ele usava naquele momento as roupas com as quais ministrava, mas sem dúvida levava algum traje peculiar de seu ofício sacerdotal, e este é o que rasgou. Oh, quão significativo foi isso! A casa de Aarão e a tribo de Levi rasgaram suas vestes, e o templo, em algumas horas, rasgou seu véu de cima abaixo: pois os sacerdotes e o templo foram igualmente abolidos. Eles desconheciam isso, mas tudo o que faziam tinha um significado singular: essas vestes rasgadas eram um índice do fato que agora o sacerdócio Aarônico havia sido rasgado para sempre, e o grandioso sacerdócio de Melquisedeque havia entrado, pois o verdadeiro Melquisedeque, nesse instante e nesse lugar, estava diante deles em toda a majestade de Sua paciência.
Observem que todos concordavam; não havia dissidentes; eles tinham tomado o cuidado, não tenho dúvidas, de não deixar que Nicodemos e José de Arimatéia soubessem algo sobre esta reunião. A convocaram durante a noite, e somente a ensaiaram muito cedo pela manhã, com o objetivo de guardar sua antiga lei rabínica que estabelecia que deviam julgar os prisioneiros quando houvesse a luz do dia. Eles apressaram o julgamento, e qualquer que pudesse falar contra a sentença sedenta de sangue, foi mantido fora do caminho.
A assembleia foi unânime. Ai da unanimidade dos corações ímpios contra Cristo! É surpreendente que haja tais discussões entre os amigos de Cristo, e tal unidade entre Seus inimigos, quando o ponto é sentenciá-lo à morte. Eu nunca ouvi de discussões entre os demônios, e também nunca li de divisões no inferno: todos eles são um no seu ódio contra Cristo e contra Deus. Mas aqui estamos divididos em seções e partidos, e com frequência, estamos em guerra uns com os outros. Oh Senhor de amor, nos perdoa: Rei da harmonia, vem e reina sobre nós, e nos conduz a uma perfeita unidade a Teu redor.
A sentença foi: “morte.” Não digo nada dela exceto isto: a morte era a sentença que eu merecia, a sentença que vocês mereciam, e eles a impuseram sobre nosso Substituto. “Digno de morte”—disseram—todos eles. Todas as mãos foram levantadas; todas as vozes disseram: “Sim, sim” ao veredicto. Contudo, não havia delito Nele. Antes, digamos que toda excelência era encontrada Nele. Quando ouço que Jesus é condenado a morrer, minha alma cai a Seus pés e clama: “Bendito Senhor, agora assumiste minha condenação; não há, portanto, nenhuma condenação para mim. Agora tomaste meu cálice de morte para sorvê-lo, e a partir deste momento, está seco para mim. Glória seja dada a Teu bendito nome, desde agora e para sempre.”
V. Quase sinto prazer que o tempo tenha corrido tanto, pois devo necessariamente colocar diante de vocês a quinta e mais dolorosa cena. Assim que estes malvados homens do Sinédrio O declaram culpado de morte, os servos, os guardas, e aqueles que custodiavam o salão onde se encontravam os principais sacerdotes, ávidos de agradar a seus senhores, e todos eles tocados pelo mesmo espírito brutal que morava neles, imediatamente começaram a ultrajar a infinita majestade de nosso Senhor.
Considerem O ULTRAJE. Permitam-me ler as palavras: “E alguns começaram a cuspir nele.” “Começaram a cuspir NELE!” Assim expressaram mais contundentemente o menosprezo que por meio de palavras. Fiquem atordoados, ó céus, e sintam um medo horrível. Sua face é a luz do universo, Sua pessoa é a glória do céu, e eles “começaram a cuspir nele!” Ai, meu Deus, que o homem seja tão vil! Alguns foram mais longe, e “começaram…a cobrir-lhe o rosto.”
É um costume oriental cobrir o rosto dos condenados, como se não fossem aptos a ver a luz, nem aptos para contemplar seus semelhantes. Eu não sei se foi por esta razão, ou como simples chacota, que cobriram Seu rosto para que não pudessem vê-lo, e para que Ele não pudesse vê-los. Como podiam desta maneira apagar o sol e tapar a bem-aventurança? Logo, quando tudo era escuridão para Ele, começaram a dizer: “Profetiza-nos Cristo, quem é o que te bateu?” Então outro fez o mesmo, e muitos foram as cruéis bofetadas que aplicaram a Seu bendito rosto.
Os escritores medievais se deleitavam em falar sobre os dentes que foram quebrados, das feridas em sua face, do sangue que escorria, da carne que foi golpeada e ferida; mas nós não nos atrevemos a imaginar isto. A Escritura se espalhou como um véu, e deixemos que fique aí. Contudo, deve ter sido um horrível espetáculo ver o Senhor da glória com Seu rosto todo manchado com a maldita saliva deles e ferido por seus punhos cruéis. Aqui o insulto e a crueldade tinham se combinado: o ridículo de Seus títulos proféticos e a desonra de Sua divina pessoa. Nada foi considerado suficientemente mau. Inventaram toda a vergonha e o escárnio que puderam, e Ele permaneceu ali, paciente, ainda que um só piscar de Seus olhos os teria consumido a todos em um átimo.
Irmãos, irmãs, isto é o que o nosso pecado merecia. Algo vergonhoso és tu, ó pecado! Tu mereces que te cuspam! Isto é o que o pecado está fazendo constantemente a Cristo. Sempre que vocês e eu pecamos, por assim dizer, cuspimos em Seu rosto: também tapamos Seus olhos tratando de esquecer que Ele nos vê; e também o golpeamos sempre que transgredimos e afligimos Seu Espírito. Não falemos dos cruéis judeus: pensemos em nós, e seremos humilhados por esse pensamento. Isto é o que o mundo ímpio está fazendo constantemente a nosso bendito Senhor. Eles também pretendem tapar Seus olhos que são a luz do mundo: eles também desprezam Seu Evangelho, e O cospem como algo totalmente desgastado e sem valor: eles também desprezam aos membros de Seu corpo através de Seus pobres santos afligidos que têm de aguentar calúnias e ultrajes por Sua amada causa.
E, contudo, por sobre tudo isto, me parece ver uma luz sumamente bendita. Cristo deve ser cuspido, pois Ele tomou nosso pecado: Cristo deve ser torturado, pois Ele está ocupando nosso lugar. Quem haverá de ser o carrasco de toda esta dor? Quem assumirá a tarefa de envergonhar a Cristo? Nossa redenção foi trabalhada desta maneira, mas quem será o escravo que executará esse miserável trabalho? Joguem os cachos mais bonitos das uvas de Escol; os joguem, mas quem os pisará e extrairá laboriosamente o vinho, o generoso suco que agrada a Deus e ao homem? Os pés serão os pés dispostos dos próprios inimigos de Cristo: eles extrairão Dele o que nos redimirá e destruirá todo o mal. Eu me regozijo de ver Satanás vencido na sua astúcia, e sua malícia convertida no instrumento de seu próprio transtorno. Ele pensa destruir a Cristo, e mediante esse ato, se destrói a si mesmo. Ele atrai o mal sobre sua própria cabeça e cai no buraco que cavou. Assim, todo mal trabalhará sempre para o bem do povo do Senhor; sim, seu maior bem muito frequentemente procederá daqueles que ameaçavam com sua ruína, e que os provocavam à maior angústia.
Três dias há de sofrer o Cristo e morrer e permanecer no sepulcro; mas depois disso, Ele deve pisar a cabeça da serpente e levar cativo o cativeiro, e isso, através do próprio sofrimento e vergonha que Ele agora está suportando; de igual maneira ocorrerá a Seu corpo místico, e Satanás será pisado debaixo de nossos pés dentro em pouco.
Deixo este tema, esperando que vocês o continuem em suas meditações. Aqui há três observações. A primeira é: quão prontos estamos a suportar a calúnia e o ridículo pela causa de Jesus. Não te encolerizes, nem penses que seja algo duro e que estamos debochando de ti. Quem és tu, querido amigo? Quem és tu? Quem poderia passar a ser quando comparado a Cristo? Se cuspiram Nele, por que não cuspiriam em ti? Se o esbofetearam, por que não te esbofeteariam a ti? Por acaso o Senhor terá de suportar toda a dureza? Ele terá de ter toda a amargura, e tu toda a doçura? Belo soldado és tu, que desejas uma melhor sorte que teu Capitão!
Continuando, quão sinceramente devemos honrar ao nosso amado Senhor. Se os homens estavam tão ávidos por envergonhá-lo, nós devemos estar dez vezes mais empenhados em dar-lhe glória. Há algo que poderíamos fazer hoje, pelo meio do qual Ele pudesse ser honrado? Executemos. Podemos fazer algum sacrifício? Podemos realizar alguma tarefa difícil que O glorifique? Não devemos deliberar, mas sim fazer esta tarefa de imediato com toda nossa força. Temos de ser criativos na forma de glorificar ao Senhor, assim como Seus algozes foram engenhosos nos métodos para O envergonhar.
Finalmente, quão seguramente e quão docemente podem, todos os creem Nele, vir e descansar suas almas em Suas mãos. Certamente eu sei que quem sofreu isto, posto que era verdadeiramente o Filho do Bendito, tem a capacidade de nos salvar. Tais aflições hão de ser uma plena expiação por nossas transgressões. Glória seja dada a Deus, porque essa saliva em Seu rosto significa um rosto limpo e resplandecente para mim. Essas falsas acusações contra Seu caráter significam que não há condenação para mim. Essa sentença de morte para Ele, demonstra a certeza do nosso texto que vimos no domingo passado pela manhã:
“Na verdade, na verdade vos digo que aquele que crê em mim tem vida eterna.” Descansemos docemente em Jesus, e se nossa fé se vê agitada em algum momento, vamos à sala da casa de Caifás, e vejamos ao Justo estando no lugar dos injustos, ao Imaculado suportando a condenação pelos pecadores. Julguemos e condenemos cada pecado e cada dúvida na sala do sumo sacerdote, e saiamos gloriando-nos porque o Cristo venceu por nós, e agora esperamos Sua aparição com deleite. Que Deus os abençoe, irmãos, por Cristo nosso Senhor. Amém.

Autorização e permissão deste para o português para o Projeto Spurgeon, 
Todo direito de tradução protegido por lei internacional de domínio público
Sermão nº 1643—Volume 28 do Metropolitan Tabernacle Pulpit