INTRODUÇÃO
O ministério eclesiástico,
constituído de muitas funções a serem desempenhadas em favor da Igreja do
Senhor, envolve de tal forma aqueles que a ele se dedicam, que exige tempo,
esforço, preparo, unção e cuidado. Se o obreiro não souber administrar seu comportamento,
com graça e vigilância, poderá ser vítima da vaidade ministerial, que tem
levado muitos ao desprestígio e queda, diante de Deus, da igreja e dos homens.
Solenemente proclama a Bíblia: "A soberba precede a ruína, e a altivez do
espírito precede a queda" (Pv 16:18). Dessa forma, é imprescindível estar
atento ao que se passa em torno do ministério. O perigo pode não estar longe,
mas bem perto, dentro de cada um obreiro do Senhor. Além do sexo, dinheiro e
poder, que são os três elementos mais comuns, usados pelo diabo para derrubar
líderes, há outros, derivados desses, que minam as bases do ministério de
muitos obreiros, levando-os a serem vaidosos no ministério. Vaidade vem de
vanitate (lat.), com o significado de "vão, ilusório, instável ou pouco duradouro;
desejo imoderado de atrair admiração ou homenagens". Esse último
significado, a propósito sublinhado, tem muito a ver com a vaidade no
ministério.
O perigo da vaidade em relação ao sexo
Não é à toa que o sábio,
escritor do livro de Provérbios, exortando o filho de Deus, ensina que é
necessário ter sabedoria, bom siso e temor do Senhor, para se livrar da mulher
adúltera, "que lisonjeia com suas palavras, a qual deixa o guia da sua
mocidade e se esquece do concerto do seu Deus; porque a sua casa se inclina
para a morte, e as suas veredas, para os mortos; todos os que se dirigem a elas
não voltarão e não atinarão com as veredas da vida" (Pv 5.16-19).
Muitas vezes, por falta de
vigilância oração, o obreiro acerca-se de mulheres, em seu trabalho, sem atentar
para seu comportamento, não percebendo que armadilhas do diabo estão sendo
colocadas diante de si. Não raro, é o pastor que tem como secretária uma jovem
solteira, ou uma jovem senhora, carente de afeto, que se insinua e se oferece
para satisfazer a carência afetiva do obreiro, muitas vezes afastado da esposa,
por causa do "ativismo frenético", que não lhe deixa tempo para a
família. E o homem de Deus, esquecendo-se das bênçãos que lhe são reservadas,
troca a dignidade ministerial por um relacionamento ilícito e pecaminoso, para
sua própria destruição. Um ponto crítico, alvo de tentação, é o aconselhamento,
em sua maioria a mulheres da igreja.
Conheço casos de obreiros que
perderam a reputação, o cargo e o ministério porque se deixaram envolver
emocionalmente com pessoas aconselhadas, e caíram na armadilha do sexo. Diante
de uma bela mulher, há obreiros que ficam vaidosos, sentindo-se como se fossem
galãs conquistadores. Na verdade, estão sendo conquistados pelo diabo. É o
velho comportamento de Esaú, trocando as bênçãos do ministério pelo prato de
lentilhas do prazer imediato.
Não há outro caminho para
escapar da queda, a não ser o temor de Deus, a vigilância, a oração (Mt 26.41)
e o desenvolvimento de um relacionamento amoroso com a esposa, que envolva carinho,
companheirismo e verdadeira afeição. A Bíblia diz: "Tem cuidado de ti
mesmo..." (1 Tm 4.16).
A vaidade em relação do dinheiro
O dinheiro, em si, não é mau. A
Bíblia não diz em nenhuma parte que o dinheiro é perigoso. Ela nos adverte
quanto ao "amor do dinheiro", que é a "raiz de toda espécie de
males; e nessa cobiça alguns se desviaram da fé e se traspassaram a si mesmos
com muitas dores" (1 Tm 6.10). Uma boa "prebenda" pode levar
muitos à vaidade.
A Palavra de Deus é infalível.
Aqueles que, na direção de igrejas, principalmente de grande porte, cuja renda
mensal é considerada alta, não têm cuidado de vigiar no trato com recursos
financeiros, acabam afundando na cobiça, esquecendo-se da missão, e tornando-se
verdadeiros cambistas, negociantes e mercantilistas do tesouro da casa do
Senhor. E isso é vaidade, futilidade. A vaidade e o poder que detêm os torna
como se fossem donos do tesouro da igreja, e passam a gastar como bem querem e
entendem, sem dar satisfação sequer à Diretoria, e muito menos à igreja, que se
sente desconfiada, por nunca ouvir um relatório financeiro da tesouraria.
É lamentável, mas há obreiros
que compram bens pessoais, ás custas do dinheiro dos dízimos e ofertas do
Senhor. Certamente, a maldição os alcançará, pois estão sonegando os recursos
destinado à Obra do Senhor. Essa vaidade é prejudicial ao bom nome da igreja. A
Bíblia conta o que ocorreu com Gideão. Numa fase de sua vida, deixou-se levar
pela direção de Deus, e foi grandemente abençoado, sendo protagonista de
espetacular vitória contra os midianitas, à frente de apenas 300 homens (Jz 7).
Contudo, após a grande vitória,
cobiçou o ouro de seus liderados, solicitando que cada um deles lhe desse
"os pendentes de ouro do despojo", no que foi atendido pelos que o
admiravam (Jz 8.24). Tentado pela cobiça do metal precioso, Gideão deixou que
subisse para a cabeça o desejo de ter sua própria "igreja",
levantando um lugar de adoração, com o ouro que lhe foi presenteado, mandando
confeccionar um éfode, " e todo o Israel se prostituiu ali após dele: foi
por tropeço a Gideão e à sua casa...e sucedeu que , quando Gideão faleceu, os
filhos de Israel e se tornaram, e se prostituíram após dos baalins: e puseram
Baal-Berite por seu deus" (Jz 8.27,32).
Tem razão a Palavra de Deus,
quando adverte que "o amor ao dinheiro é a raiz de toda espécie de
males...".
A vaidade do poder do cargo
Há obreiros que, enquanto
dirigentes de pequenas igrejas, são humildes, despretensiosos e dedicados à
missão que lhe foi confiada. Contudo, ao verem a obra crescer, fazendo-os
líderes de grandes igrejas, esquecem de que "nem o que planta é alguma
coisa, nem o que rega, mas Deus, que dá o crescimento" (1 Co 3:7), e
passam a se comportar como verdadeiros imperadores ou ditadores eclesiásticos.
O cargo de pastor, do bispo ou
do presbítero é de grande valor para a igreja. A Bíblia diz Deus deu pastores à
igreja, ao lado de evangelistas e mestres, "querendo o aperfeiçoamento dos
santos, para a obra do ministério, para edificação do corpo de Cristo" (Ef
4.12). Aí está o objetivo do cargo ou da função pastoral.
Quando o ministro perde essa
visão, acaba pensando que o cargo é fonte de poder pessoal, humano e carnal, e
passa a usar a posição para a satisfação de interesses pessoais ou de grupos
que se formam ao seu redor, e deixa-se dominar pela vaidade ministerial. Uzias,
que reinou em lugar de seu pai, Amazias, aos dezesseis anos de idade, teve um
grande ministério, aconselhando-se com Zacarias. A Bíblia diz que ele,
"nos dias em que buscou o Senhor, Deus o fez prosperar" (2 Cr
26.3,5). Acrescenta, ainda a Palavra, que Uzias foi "maravilhosamente
ajudado até que se tornou forte. Mas, havendo-se já fortificado, exaltou-se o
seu coração até se corromper; e transgrediu contra o Senhor seu Deus, porque
entrou no templo do Senhor para queimar incenso no altar do incenso" (2 Cr
26.15,16).
Esse episódio demonstra que a
ilusão ou a vaidade do poder, oriundo da posição que o líder ocupa é fonte de
comportamentos os mais estranhos e imprevisíveis. O diabo se aproveita das
fraquezas da personalidade de certas pessoas, e incita-as a julgar-se grandes
demais, a ponto de extrapolarem suas ações, agindo de modo ilegítimo, e contra
a vontade de Deus. Uzias foi grandemente abençoado, até que, sentindo-se forte,
ou seja, cheio de poder, entendeu que podia imiscuir-se nas funções que eram
privativas do sacerdote de sua época. Porque ele fez isso? Porque se deixou
dominar pela vaidade do poder.
É muito importante que o
obreiro, no ministério, tenha consciência de que o poder que lhe sustenta não é
o poder pessoal, nem o poder do cargo. O homem de Deus só pode ser sustentado e
permanecer firme, se reconhecer que o poder vem de Deus. Davi disse: "Uma
coisa disse Deus, duas vezes a ouvi: que o poder pertence a Deus" (Sl
62:11). S. Paulo, doutrinando aos efésios sobre as armas que são colocadas à
disposição do crente, ensinou: "No demais, irmãos meus, fortalecei-vos no
Senhor e na força do seu poder" (Ef 6.10).
O poder que emana do cargo
ministerial é passageiro. Da mesma forma, o poder que advém do dinheiro, da
posição, da fama ou de qualquer outra fonte, tem raízes nas forças do homem, e
não tem durabilidade, pois debaixo do sol tudo é vaidade, conforme diz o sábio
escritor do Eclesiastes (Ec 1.14). Dessa forma, é melhor não se deixar dominar
pela vaidade do poder, pois, um dia, quando o detentor do cargo tem que
deixa-lo, seja por jubilação ou por outra razão, poderá sofrer muito, sentindo
falta do poder de que foi detentor. Contudo, quando o homem de Deus não se
deixa seduzir pela vaidade do poder, e confia no poder de Deus, ele pode sair
do cargo de cabeça erguida, sem sentir carência da posição.
A vaidade na pregação
Um obreiro, pastor ou líder, à
frente do trabalho, precisa ter mensagens para transmitir ao rebanho. A
verdadeira mensagem é aquela que vem de cima, que flui do Espírito de Deus para
o espírito do mensageiro, e passa para a igreja, com unção e graça, de modo que
todos são tocados pelo poder de Deus, transbordando em amor, temor e alegria
espiritual.
Esse tipo de mensagem só pode
existir, se o obreiro buscar a presença de Deus, em oração e jejum. Certo
pregador dizia que muitos lhe indagavam sobre o segredo de ter tanta unção para
transmitir mensagens para o povo, ao que ele respondeu - "O segredo é que
muitos oram cinco minutos para pregar uma hora; eu oro uma hora para pregar
cinco minutos".
Infelizmente, há os que,
conscientes de que possuem o dom da palavra, ou o dom da oratória, ficam
orgulhosos, e passam a se comportar como se fossem meros oradores de palanques,
procurando impressionar a igreja. Há até os pregadores profissionais, que se
utilizam das técnicas de comunicação, para atrair os ouvintes; são portadores
de mensagens "enlatadas", as quais só precisam de um
"esquente" da platéia para arrancarem glórias e aleluias.
O uso da oratória, fundamentada
numa boa orientação da Homilética, não faz mal a nenhum pregador. É um meio
adequado que, submisso à unção do Espírito Santo, pode trazer muitos resultados
abençoados para o engrandecimento do Reino de Deus. Um esboço de mensagem bem
elaborado, com oração e jejum, com base na pesquisa da Palavra de Deus, e
transmitido com humildade e dependência do Senhor é um recurso que dá firmeza
ao pregador na sua alocução, na transmissão do sermão.
Entretanto, o obreiro, em sua
prédica, não deve pensar que tais recursos são a razão do sucesso da mensagem
que transmite. S. Paulo, extraordinário pregador, não confiou em sua formação
privilegiada, aos pés de Gamaliel. Escrevendo aos coríntios, disse: "A
minha palavra e a minha pregação não consistiram em palavras persuasivas de
sabedoria humana, mas em demonstração do Espírito e de poder" (1 Co 2:4).
Ele confiava na eloquência do poder, ao invés de se firmar no poder da
eloquência. A vaidade na pregação faz com que certos evangelistas não se
interessem por pregar para pequenas multidões. Seu ego só se satisfaz se lhe
for assegurada a assistência de milhares de pessoas.
A vaidade no tratamento
Todo homem de Deus tem o dever
de tratar bem às pessoas e o direito de ser bem tratado pelos que dele se
aproxima,, pois não é uma pessoa qualquer, mas um servo de Deus, que está
incumbido da missão mais importante da face da terra. A Bíblia diz: "a
quem honra, honra" (Rm 13.7). Contudo, há aqueles que, dominados pelo
sentimento vaidoso, extrapolam seus interesses, e passam a exigir um tratamento
exagerado em torno de sua pessoa.
Conheci o caso de certo
pregador, que, ao ser convidado para pregar num congresso, não se limitou a
aceitar a passagem, a hospedagem e uma oferta da igreja. De antemão, exigiu que
a passagem fosse enviada por determinada empresa aérea; que lhe fosse providenciada
hospedagem num hotel de categoria internacional (cinco estrelas) para ele e sua
esposa; e que também lhe fosse concedida um apartamento duplo para sua
empregada e seus filhos, que deveriam acompanhá-lo. E foi atendido. Seu ego foi
satisfeito, sua vaidade foi alimentada, às custas dos dízimos e ofertas de
irmãos, em sua maioria pobres de recursos e de bens materiais.
Se não tivermos cuidado, vai
haver pregador famoso, que poderá exigir até passagem para seu cão de estimação
e tratamento "vip" para o animal. Vaidade e mercantilismos podem
prejudicar muitos ministérios. Tenho visto que, no Brasil, há obreiros
humildes, cheios da unção de Deus, mas, por serem jovens ou não serem famosos,
são esquecidos, e nunca aproveitados em cruzadas e congressos.
A vaidade no ministério do louvor
Ao ministrar estudo num certo
estado do Brasil, ouvi de irmãos que certo "cantor evangélico famoso"
passara por ali, tendo exigido um cachê de quinze mil reais, com cinqüenta por
cento adiantado, em depósito em sua conta; carro com ar condicionado, o melhor
hotel da cidade
E lamentavelmente, os irmãos se
submeteram à vaidade exagerada daquele homem que, se aproveitando do que Deus
fez em sua vida, passou a explorar certas igrejas, infelizmente dirigidas por
pastores vaidosos , que só pensam em ver multidões, não importando o preço a
pagar. Uma igreja denominacional, que desejava angariar recursos para a
construção de um templo, resolveu convidar certo cantor, recém-convertido ao
evangelho, esperando obter algum retorno para a obra.
O cantor, conhecido no mundo
artístico brasileiro, exigiu, além de hotel de luxo, quase vinte mil reais,
para cantar numa só noite, num grande estádio de futebol. Como resultado, as
"entradas" não cobriram o "cachê" , a igreja teve prejuízo
e amargou grande decepção. Sem dúvida, isso só acontece por causa da vaidade de
tais pessoas, e da ingenuidade de certos pastores, que, desejando ver "a
casa cheia", convidam celebridades para atrair o povo. A Bíblia nos mostra
que o caminho para angariar recursos para a "manutenção" da casa do
Senhor é a doutrina sobre a mordomia cristã, no que concerne aos dízimos e
ofertas, conforme Malaquias 3.10.
Vaidade nas mordomias
No passado, quando o evangelho
chegou à nossa terra, trazido por homens de Deus, que foram pioneiros no
desbravamento da obra, as condições de trabalho eram duras e difíceis. Muitos
deles andaram a pé, distâncias enormes, que os faziam fadigados e doentes;
muitos percorreram os rincões do país, no lombo de cavalos, ou atravessando
rios em canoas, sujeitos aos riscos de viagens sem segurança; muitos se
hospedarem à margem dos igarapés, infestados de mosquitos e ameaçados por
animais selvagens; tomaram água suja e chegaram a ser vitimados pela malária ou
pela febre amarela. A eles, muito devemos, pelo seu desprendimento, coragem e
fé.
Hoje, no entanto, em geral,
vemos que Deus tem propiciado condições de trabalho muito melhores aos
obreiros, por esse Brasil a fora. As igrejas maiores podem conceder aos
pastores moradia condigna, transportes pessoais, seguro-saúde, salário
compatível e muito mais. É verdade que em grande parte, há obreiros que passam
necessidades, injustamente. Entretanto, há os que, aproveitando-se da bênção de
Deus sobre as igrejas, abusam das mordomias.
Há casos em que o obreiro
rejeita a casa pastoral, porque a esposa não gosta do estilo do prédio, e
passam a exigir casa com tanto conforto e luxo, nas dependências, que consomem
os recursos da igreja. É importante que o pastor more condignamente. Mas não é
preciso exibir riqueza e luxo. Por outro lado, há obreiros que exigem salário
tão elevado, além de combustível para o carro particular, pagamento de todas as
despesas da casa, carro para levar os filhos na escola, empregada, arrumadeira,
vigia, etc., que chamam a atenção dos murmuradores contra a obra do Senhor.