Primeiramente,
por que estou fazendo esta pergunta? Três motivos:
1.
Porque em nosso delicado e perigoso cenário de pluralismo religioso
global, a maneira como falamos sobre nossas metas pode nos colocar
para fora de um país ou coisa pior.
2.
Porque nós queremos seguir o padrão de honestidade de Paulo:
“Rejeitamos as coisas que, por vergonhosas, se ocultam, não
andando com astúcia, nem adulterando a palavra de Deus; antes, nos
recomendamos à consciência de todo homem, na presença de Deus,
pela manifestação da verdade” (2 Coríntios 4:2).
3.
Porque nós precisamos de clareza bíblica sobre nosso papel na
conversão de outras pessoas a Cristo, a fim de não rejeitarmos o
alvo da conversão por motivos equivocados.
Vamos
começar com uma definição.
A
conversão cristã é o ato ou processo de ser mudado (sem coerção,
mas através de nossa própria volição) em uma nova pessoa que crê
e valoriza Jesus Cristo, sua obra salvadora, e suas promessas acima
de tudo, incluindo tudo o que nós acreditávamos ou valorizávamos
antes da conversão.
Dada
a definição, minha resposta para a pergunta é: Sim,
todos os cristãos deveriam almejar converter pessoas para a fé em
Jesus Cristo.
Este é um de nossos alvos em tudo o que dizemos e fazemos. Esperamos
e oramos para que tudo o que dissermos e fizermos tenha este efeito.
Em outras palavras, nosso alvo é não dizer coisas e fazer coisas
que sejam ineficazes.
Nós desejamos — nós esperamos, nós ansiamos, nós oramos — que
o que nós dissermos e fizermos tenha este efeito: que pessoas
valorizem Cristo acima de tudo. Não querer isso é ter incredulidade
ou desamor.
Mas
dizer que a conversão cristã é nosso alvo ainda não define qual é
nosso papel em fazer a conversão acontecer. Isso é o que carece de
explicação bíblica.
E
aqui eu quero apenas trazer um esclarecimento: O
fato de que Deus seja a causa última e decisiva na conversão não
quer dizer que não somos agentes ativos na conversão. Nós
somos. E,
como agentes de Deus na conversão nós a visamos — escolhemos o
que fazer e dizer, na esperança de que isso seja usado por Deus para
realizar a conversão.
O
fato de que Jesus disse, “ninguém poderá vir a mim, se, pelo Pai,
não lhe for concedido” (João 6:65), não significa que nós não
sejamos instrumentos para trazer pessoas até Cristo. “O
Espírito e a
noiva [a Igreja] dizem: Vem! Aquele que ouve, diga: Vem!”
(Apocalipse 22:17).
A
Bíblia não sugere que porque Deus causa as pessoas a virem, não
devemos dizer: “Vem.” Nosso objetivo e esforço são para que
eles venham. E Deus é quem decide se eles vêm. Dizer que não
estamos almejando que eles venham contradiz o mandamento de Jesus
(Lucas 14:23), contradiz a instrumentalidade humana do Evangelho
(Romanos 10:13-15), e contradiz o amor.
Considere
outras cinco maneiras com que a Bíblia fala sobre nosso papel na
conversão de outros.
1.
Conversão cristã envolve pessoas
espiritualmente cegas poderem ver a
glória de Cristo. Embora seja Deus quem abra os olhos dos cegos
espiritualmente (2 Coríntios 4:6), Jesus envia Paulo para abrir os
olhos deles.
Livrando-te do povo e dos gentios, para os quais eu te envio, para lhes abrires os olhos e os converteres das trevas para a luz e da potestade de Satanás para Deus, a fim de que recebam eles remissão de pecados e herança entre os que são santificados pela fé em mim. (Atos 26:17-18)
Se
Paulo dissesse que seu objetivo não é
abrir os olhos deles, seria desobediência à missão que Jesus lhe
deu.
2.
Conversão cristã envolve ganhar
pessoas que
valorizam qualquer coisa acima de Cristo para a plena devoção a
Cristo. Embora Deus seja decisivo na mudança de afetos das pessoas
(Jeremias 24:7), Paulo diz que seu objetivo é conquistar as pessoas.
Fiz-me fraco para com os fracos, com o fim de ganhar os fracos. (1 Coríntios 9:22)
Se
Paulo dissesse que seu objetivo não é ganhar pessoas para Cristo,
estaria contrariando sua missão.
3.
Conversão cristã envolve trazer
as pessoas de volta do
caminho do pecado e da destruição. Embora Deus seja quem
decisivamente nos traz de volta a si mesmo (Jeremias 31:18, Isaías
57:18), a Bíblia fala de nós trazendo pessoas de volta do pecado e
da morte.
Sabei que aquele que converte o pecador do seu caminho errado salvará da morte a alma dele e cobrirá multidão de pecados. (Tiago 5:20)
Dizer
que não almejamos
trazer as pessoas de volta do pecado e da morte nos colocaria fora de
sintonia com este texto e implicaria que não nos preocupamos com a
morte de incrédulos.
4.
Conversão cristã envolve mover
o coração em
direção ao verdadeiro Deus, longe de ideias erradas sobre Deus e as
afeições erradas para o que não é Deus. Embora Deus seja decisivo
no mover do coração do homem para si mesmo (2 Tessalonicenses 3:5),
João Batista foi comissionado para mover os corações de Israel a
Deus.
“E converterá muitos dos filhos de Israel ao Senhor, seu Deus. E irá adiante do Senhor no espírito e poder de Elias, para converter o coração dos pais aos filhos, converter os desobedientes à prudência dos justos e habilitar para o Senhor um povo preparado.” (Lucas 1:16-17)
Se
João Batista dissesse que ele não almeja mover os corações do
povo a Deus, ele seria desobediente ao seu chamado.
5.
Conversão cristã envolve nascer
de novo.
Embora o Espírito de Deus seja a causa soberana do novo nascimento,
soprando onde quer (João 3:8), mesmo assim, Pedro explica que isso
acontece por meio da pregação do evangelho pelos seres humanos.
“Pois fostes regenerados não de semente corruptível, mas de incorruptível, mediante a palavra de Deus, a qual vive e é permanente… Ora, esta é a palavra que vos foi evangelizada.” (1 Pedro 1:23-25)
Se
o pregador do evangelho dissesse que ele não está visando o novo
nascimento em sua pregação, isso iria colocá-lo fora de sintonia
com o Espírito e iria contradizer o projeto de Deus na forma como as
pessoas nascem de novo.
Portanto,
concluo que não é bíblico dizer que não estamos visando a
conversão porque Deus é a causa final e decisiva da conversão. Ele
é. Mas nós somos os seus agentes, e ele nos chama para acompanhá-lo
neste objetivo. Não almejar isso é colocar-nos fora de sintonia com
o seu comando e seu Espírito.
Pela
causa de Deus e da verdade,
Pastor
John Piper
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