domingo, 16 de dezembro de 2012

PAULO NAS CARTAS AOS GÁLATAS



De forma até grosseira, Paulo faz ecoar no espaço as primeiras informações. Neste ponto não permite concessões. Como primeira palavra da carta ele anota o autor principal: Paulo. Com este seu cognome latino ele se apresenta regularmente. Soubemos o seu nome judaico apenas por At, a saber, nove vezes na forma do AT ― Saul e 15 vezes na forma grega Saulos. A mudança do nome judaico para o cognome latino não se deu, p. ex., na ocasião em que se tornou cristão diante das portas de Damasco.Mas, conforme At 13.9, somente quando se deram as primeiras conversões de gentios com a sua participação, sobre as quais At informou.Desse momento em diante, Lucas o designa unicamente por Paulo. Sob esse nome ele se tornou e continua conhecido no mundo todo como apóstolo dos gentios.
Com a segunda palavra, Paulo já amplia a indicação usual de autor: apóstolo. Ele não se apresenta aos seus leitores nem como Paulo devoto nem como inteligente. Na verdade, ao escrever, não se vê por nenhum momento como pessoa particular que elabora seus pensamentos em livre associação, e sim como apóstolo de Jesus Cristo, tomado integralmente pelo que o envia: sobre mim pesa essa obrigação; porque ai de mim se não pregar o evangelho! (1Co 9.16).
Como em nenhum outro prefácio de carta, ele vai desenvolvendo a natureza singular de sua autoridade, seguramente porque foi desafiado pela atitude autoritária dos mestres estranhos na Galácia (cf. o exposto sobre Gl 6.12). Com esse objetivo, coloca duas vezes o ser humano de lado: Paulo é apóstolo não da parte de homens. No cristianismo primitivo também havia apóstolos das igrejas (2Co 8.23 cf. BJ), que como tais realmente eram pessoas respeitadas (cf. Gl 2.12). Contudo Paulo não se insere nessa fileira. Ele não é o expoente de um grupo de cristãos, p. ex., da igreja de Jerusalém. A partir do v. 16 ele o comprovará. Ele tampouco foi incumbido da sua mensagem por intermédio de homem algum, p. ex. por Pedro. No v. 18 ele especificará o seu relacionamento com Pedro.
Nos v. 10 e ss Paulo ainda acrescenta nada mais nada menos que quatro negações do ser humano: Não para a aprovação das pessoas (v. 10a), não para agradar a pessoas (v. 10b), não segundo a maneira humana (v. 11) e não recebido nem aprendido de seres humanos (v. 12). Por que nesse assunto o ser humano é tão nitidamente excluído? Por causa do ser humano, para que lhe seja preservado o evangelho de Deus. A pregação de Paulo não constitui nenhum acontecimento interativo entre pessoas. Nela o ser humano não tem a ver consigo próprio, não telefona consigo mesmo, não se ergue pessoalmente do pântano pelos cabelos.
Depois da dupla exclusão do ser humano seguem-se duas informações positivas. Primeiro: mas por Jesus Cristo. Paulo está debaixo de um envio emitido diretamente por Cristo. Atrás de sua boca está imediatamente a boca do Senhor, mais precisamente, do Senhor exaltado. Por isso, em segundo lugar: e por Deus Pai, que o ressuscitou dentre os mortos. No texto básico a forma gramatical de ressuscitar aparece como um predicado do Pai, literalmente: pelo Pai que o ressuscita dos mortos. A natureza paterna de Deus está sendo preenchida cristologicamente: Quando Jesus é ressuscitado reluz, como em nenhuma outra ocasião, a glória do Pai (Rm 6.4). É isso, portanto, que se afirma em relação ao fundamento do apostolado. Quem diz apóstolo, diz Páscoa. Do mesmo modo Paulo estabelece o nexo causal dos dois aspectos em 1Co 9.1: Não sou eu, porventura, livre? Não sou apóstolo? Não vi Jesus, nosso Senhor? Também Lucas insiste em datar a origem do apostolado nas aparições do Ressurreto.
Portanto, o evangelho, que Paulo tenciona testemunhar de novo aos gálatas na presente carta, tem como fonte esse glorioso poder de ressurreição de Deus o Pai. Já com o primeiro versículo Paulo insta poderosamente com seus leitores. Tampouco nós temos diante de nós a interessante contribuição de um teólogo do século I, mas recebemos uma palavra de revelação de um apóstolo de Jesus Cristo, nosso Senhor.
 
 
 
 

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