A igreja evangélica, salvo raríssimas exceções, herdou de forma
conveniente, a estrutura bispo-monárquico da igreja romana, criando seus
pequenos e grandes vaticanos, centralizando aquilo que o próprio Senhor Jesus
Cristo descentralizou, ou seja, o culto de adoração a Deus (Jo 4.23,24). Se
fôssemos, de fato, seguir o ensinamento de Jesus, deixaríamos de construir
templos, pois nós somos templos nele como nos deixaram bem claro os textos de
Paulo (I Co 3.16,17; 6.19; Ef 2.21,22); e Pedro (I Pe 2.5). Desde a minha adolescência já ouvia
“pastores” se valerem de uma hermenêutica totalmente equivocada, porém
conveniente a eles, daquela passagem onde Davi teve a oportunidade de matar
Saul na caverna, e disse:”Deus me guarde de tocar no ungido do Senhor”. (I Sm
24.6)E assim, agiam de maneira hostil e arbitrária contra o rebanho de Deus
(leia I Pe 5.2), causando males psíquicos, muitos até de natureza indelével, na
vida de muita gente boa e temente a Deus. Ora, Saul foi ungido para ser rei, um
pastor, se é que realmente foi ungido por Jesus, foi ungido para ser servo a
exemplo do Sumo Pastor (Mt 20.28 e Lc 22.27). Não consigo ver nenhuma
semelhança entre muitos pastores, principalmente presidentes de igrejas, com o
nosso Bom Pastor Jesus (Jo 10.14), pois o Senhor sequer tinha onde reclinar a
cabeça (Lc 9.58), ao contrário desses mercenários da fé que se tornaram ricos,
usufruindo dos dízimos e ofertas para seus deleites e prazeres, viajando pelo
mundo, enviando seus filhos para estudarem nas melhores escolas do mundo, nos
EUA e Inglaterra, e ainda oprimindo o povo sob ameaças de excomunhão e “pragas
evangélicas e maldições” sobre quem não contribuir e bancar suas luxúrias!
Observe o que Paulo diz sobre o nosso Sumo
Pastor e veja se há alguma semelhança no comportamento avarento de muitos
pastores de nossos dias:
“Porque já sabeis a graça de nosso Senhor
Jesus Cristo que, sendo rico, por amor de vós se fez pobre, para que pela sua
pobreza enriquecêsseis.” (2 Co 8.9)
O oposto do que Paulo diz expressaria bem o
que motiva muitos líderes evangélicos:
“Porque já sabeis sobre o espírito de
pleonexia e eritheia (espírito que visa lucro!) de muios pastores, os quais
sendo pobres, por interesse e cobiça se fizeram ricos, para que pela sua
riqueza de bens acumulados, permanecêsseis pobres e oprimidos.”
Mas o enriquecimento neste texto está no
contexto que fala da riqueza de generosidade demonstrada por aqueles irmãos
pobres, que contribuíram com grande alegria e voluntariedade, para socorrer aos
irmãos da igreja de Jerusalém. Mas o pastor mercenário adora citar 2 Co 9.6 que
fala sobre a lei da semeadura, ou seja:
“o que semeia pouco, pouco também ceifará,
e o que semeia em abundância, em abundância ceifará.”
Entretanto, este texto está dentro do mesmo
contexto da riqueza de generosidade que aqueles irmãos, tão pobres,
demonstraram, dando acima de suas possibilidades, não para a construção de um
império eclesiástico, mas para socorrer aos necessitados.
Lembro-me de um pastor, muito versado na
bíblia, um bom evangelista, mas, um péssimo pastor, que “apausentava” (não
apascentava!) as ovelhas com terrorismos verbais com base “bíblica”, dizendo:
“ninguém brinque com a severidade de Deus”, e como eu sempre fui livre para me
expressar, eu o confrontei dizendo que aquilo não era “severidade de Deus”, mas
sim sua (do pastor) natureza adâmica nordestina de cangaceiro de Lampião! Por
favor, não me interpretem mal, pois nada tenho contra nossos irmãos compatriotas
nordestinos, pois meu paizinho e avós paternos (saudosa memória) são de lá,
gente boa e muito talentosa e criativa.
Infelizmente, assim como o clero romano
percebeu que o templo judaico era grande fonte de lucro, passou a centralizar o
culto, a partir do 3º século d.C, oficializando o cristianismo como religião do
Estado, e os protestantes, principalmente hoje, copiaram esta forma
centralizadora e tirana de culto, onde quem manda quem é o chefe supremo,
pontífice evangélico, é o pastor presidente vitalício (nem o presidente da
república é vitalício!), coronel e “dono” das almas de crentes indoutos e
leigos, que se recusam a enxergar que este sistema é humano e carnal.
O Senhor Jesus estabeleceu a Sua Igreja,
mas jamais estimulou a centralização do culto no templo, pois foi Ele quem
disse à mulher samaritana:
“Nem no monte e nem no templo adorareis ao
Pai (…). Mas a hora vem, e agora é, em que os verdadeiros adoradores adorarão
ao Pai em espírito e em verdade, porque o Pai procura a tais que assim o
adorem.” (Jo 4.21,23).
Seria muito bom se houvesse arrependimento
e conversão ao verdadeiro evangelho de Jesus desses pseudo-pastores! Seria
maravilhoso se eles assimilassem a mensagem do apóstolo Pedro que disse:
“Apascentai o rebanho DE DEUS, que está
entre vós, tendo CUIDADO dele, NÃO POR FORÇA, MAS VOLUNTARIAMENTE; nem por
TORPE GANÂNCIA, mas de ÂNIMO PRONTO. Nem como TENDO DOMÍNIO sobre a HERANÇA DE
DEUS, mas SERVINDO de EXEMPLO para o REBANHO DE DEUS.” (I Pe 5.2,3 – o grifo é
meu)
PRESTE ATENÇÃO NA CONOTAÇÃO GENITIVA, QUE
INDICA DELIMITAÇÃO DE ORÍGEM: REBANHO DE DEUS E HERANÇA DE DEUS!!!
Não tenho nenhuma dúvida de que Pedro
aprendera com o Senhor por meio daquela conversa ao redor da fogueira, quando
Jesus disse a ele: “Apascenta o MEU rebanho”. Pedro entendeu que o rebanho é de
Deus, e que ninguém deveria apascentar o rebanho de Deus por torpe ganância e
com domínio sobre ele, como vemos acontecer em todo tempo em nossos dias.
Que o Senhor Jesus, nosso Sumo Pastor,
tenha misericórdia de Seu povo que vive sob a manipulação e opressão de muitos
líderes inescrupulosos e avarentos, pois como disse Paulo, a avareza é
idolatria, e, portanto, todo pastor avarento é um idólatra.
“Porque bem sabeis isto: que nenhum
devasso, ou impuro, ou avarento, o qual é idólatra, tem herança no reino de
Cristo ou de Deus.” (Ef 5.5 cf. Col 3.5)
Postado por Valter Carvalho da Silva
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