segunda-feira, 28 de outubro de 2013

Deus em três Pessoas: A Trindade (Parte I)





Como Deus pode ser três  pessoas, porém um só Deus?


Podemos definir a doutrina da Trindade do seguinte modo: Deus existe eternamente como três pessoas - Pai, Filho e Espírito Santo - e cada pessoa é plenamente Deus, e existe só um Deus.




A DOUTRINA DA TRINDADE REVELA-SE PROGRESSIVAMENTE NAS ESCRITURAS.


1. A revelação parcial no Antigo Testamento.

A palavra Trindade não se encontra na Bíblia, embora a ideia representada pela palavra seja ensinada em muitos trechos. Trindade significa "tri-unidade" ou "três-em-unidade". É usada para resumir o ensinamento bíblico de que Deus é três pessoas, porém um só Deus.
Às vezes se pensa que a doutrina da Trindade se encontra somente no Novo Testamento, e não no Antigo. Se Deus existe eternamente como três pessoas, seria surpreendente não encontrar indicações disso no Antigo testamento. Embora a doutrina da Trindade não se ache explicitamente no Antigo Testamento, várias passagens dão a entender ou até implicam que Deus existe como mais de uma pessoa.
Por exemplo, segundo Gn 1.26, Deus disse: "Façamos o homens à nossa imagem, conforme a nossa semelhança". O que significa o verbo ("façamos") e o pronome ("nossa"), ambos na primeira pessoa do plural? Alguns já afirmaram tratar-se de plurais majestáticos, forma de falar que um rei usaria ao dizer, por exemplo: "Temos o prazer de atender-lhe o pedido". Porém, no Antigo Testamento hebraico, não se encontram outros exemplos em que um monarca use verbos no plural ou pronomes plurais para referir-se a si mesmo nessa forma de "plural majestático"; portanto, essa sugestão não tem evidências que a sustentem. Outra sugestão é que Deus esteja aqui falando com anjos. Mas os anjos não participaram da criação do homem, nem foi o homem criado à imagem e semelhança de anjos; por isso a sugestão não é convincente. A melhor explicação é que já nos primeiros capítulos de Gênesis temos uma indicação da pluralidade de pessoas no próprio deus. Não sabemos quantas são as pessoas, e nada temos que se aproxime de  uma doutrina completa da Trindade, mas implica-se que há mais de uma pessoa. O mesmo se pode dizer de Gn 3.22 ("Eis que o homem se tornou como um de nós, conhecedor do bem e do mal"), Gn 11.7 ("Vinde, desçamos e confundamos ali a sua linguagem") e Is 6.8 ("A quem enviarei, e quem há de ir por nós?"). (Repare a combinação de singular e plural na mesma oração na última passagem)
Além disso, em determinadas passagens uma pessoa é chamada "Deus" ou "Senhor" e distinguida de outra pessoa também chamada de Deus. Em Salmo 45.6-7(NIV), diz o salmista: "O teu trono, ó Deus, perdurará para todo o sempre. [...] Tua amas a justiça e odeia a iniqüidade; portanto, Deus, o teu Deus, te estabeleceu acima dos teus companheiros ungindo-te com o óleo da alegria". Aqui o salmo vai além de descrever algo que poderia valer para um rei terreno, e chama o rei de "Deus" (v. 6), cujo trono perdurara "para todo o sempre". Mas então, ainda falando da pessoa chama "Deus", o autor diz que Deus, o teu Deus, te estabeleceu acima dos teus companheiros" (v. 7). Então duas pessoas distintas são denominadas "Deus" (heb. 'Elõhîm). No Novo Testamento, o autor de Hebreus cita essa passagem e a aplica a Cristo: "O teu trono, ó Deus, é para todo o sempre" (Hb 1.8)
Do mesmo modo, em Salmo 110.1, fala Davi: "DIsse o Senhor ao meu Senhor: Assenta-te à minha mão direita, até que ponha os teus inimigos por escabelo dos teus pés". Jesus corretamente entende que Davi se refere a duas pessoas distintas como "Senhor" (Mt 22.41-46), mas quem é o "Senhor" de Davi senão o próprio Deus? E quem poderia dizer a Deus "Assenta-te à minha direita", exceto alguém que também seja plenamente Deus? Do ponto de vista do Novo Testamento, podemos parafrasear assim esse versículo: "Deus Pai disse a Deus Filho:"Assenta-te à minha direita". Mas mesmo sem o ensinamento do Novo Testamento sobre a Trindade, parece claro que Davi estava ciente de um pluralidade de pessoas num só Deus. Jesus, é claro, compreendo a isso, mas quando pediu aos fariseus uma explicação dessa passagem, "E ninguém podia responder-lhe uma palavra; nem desde aquele dia ousou mais alguém interrogá-lo."(Mt 22.46). A menos que se disponham a admitir a pluralidade de pessoas num só Deus, os intérpretes judeus das Escrituras, mesmo hoje, não terão explicação mais satisfatória de Salmo 110.1 ( ou Gn 1.26, ou das outras passagens analisadas há pouco) do que aquela que circulava no tempo de Jesus.
Isaías 63.10 diz sobre o povo de Deus que "eles foram rebeldes e contestaram o seu Espírito Santo", dando a entender, aparentemente, tanto que o Espírito Santo é distinto do próprio Deus (é "seu Espírito Santo") quanto que esse Espírito Santo pode-se "contristar", entristecer-se, aventando assim capacidade emocionais características de uma pessoa distinta. (Is 61.1 também distingue "O Espírito do SENHOR Deus" do "SENHOR", ainda que não se atribua qualidade pessoais ao Espírito Senhor nesse versículo. 
Evidências semelhantes encontram-se em Malaquias, em que diz o Senhor: "Eis que eu envio o meu mensageiro, que preparará o caminho diante de mim; e de repente virá ao seu templo o Senhor, a quem vós buscais; e o mensageiro da aliança, a quem vós desejais, eis que ele vem, diz o Senhor dos Exércitos. Mas quem suportará o dia da sua vinda? E quem subsistirá, quando ele aparecer? Porque ele será como o fogo do ourives e como o sabão dos lavandeiros." (Ml 3.1-2). Aqui, novamente, aquele que fala (o SENHOR dos Exércitos") distingue-se do "Senhor, a quem vós buscais", sugerindo duas pessoas separas, que podem ambas ser chamadas "Senhor".
Em Oséias 1.7, o Senhor fala da casa de Judá: E os salvarei pelo Senhor, seu Deus", novamente sugerindo que mais da uma pessoa pode ser chamada "Senhor" (heb. Yahweh) e "Deus" ( 'Elõhîm).
E em Isaías 18.16, aquele que fala (aparentemente o servo do Senhor) diz: "Agora, o Senhor Deus me enviou a mim e o seu Espírito". Aqui o Espírito do Senhor, como o servo do Senhor, foi "enviado" pelo Senhor Deus para uma missão particular. O paralelismo entre os dois objetos de enviar ("mim" e "o seu Espírito") é compatível com a interpretação de que são pessoas distintas: parece significar mais do que meramente "o Senhor  enviou a mim e o seu poder". De fato, do ponto de vista do Novo Testamento (que reconhece Jesus, o Messias, como o verdadeiro Servo do Senhor predito nas profecias de Isaías), Isaías 18.16 carrega implicações trinitárias: "Agora, o Senhor Deus me enviou a mim e o seu Espírito", se dito por Jesus, o Filho de deus, menciona as três pessoas da Trindade.
Além do mais, diversas passagens do Antigo testamento sobre o "Anjo do Senhor"  subentendem uma pluralidade de pessoas em Deus. A palavra traduzida "anjo" (heb. mal'ak) significa simplesmente "mensageiro". Se esse anjo do Senhor é um "mensageiro" do Senhor, ele pe então distinto do próprio Senhor. Porém, em algumas passagens o anjo do Senhor é chamado "Deus" ou "Senhor" (ver Gn 16.13; Êx 3.2-6; 23.20-22 [repare "nele está o meu nome" no v. 21]; Nm 22.35 com 38; Jz 2.1-2; 6.11 com 14). Em outros trechos no Antigo Testamento "o Anjo do Senhor" simplesmente se refere a um anjo criado, mas pelo menos nesses textos o anjo (ou "mensageiro") especial do Senhor parece ser uma pessoa distinta e plenamente divina.
Um dos textos mais polêmicos do Antigo Testamento que poderia revelar personalidades distintas para mais de uma pessoa está em Provérbios 8.22-31. Embora a parte anterior do capítulo possa ser compreendida como meramente uma personificação da "sabedoria", com vistas a um efeito literário, mostrando a sabedoria a chamar os simples e a convidá-los a aprender, é possível argumentar que os vv. 22-31 dizem coisas sobre a "sabedoria" que parecem ir além da mera personificação.  Falando do tempo em que Deus criou a terra, diz a sabedoria: "... então, eu estava com ele e era arquiteto, dia após dia, eu era as suas delícias, folgando perante ele em todo o tempo; regozijando-me no seu mundo habitável e achando as minhas delícias com os filhos dos homens (Pv 8.30-31). Atuar como "arquiteto" junto de Deus na criação indica em si mesmo a idéia de uma pessoas distinta, e as frases seguintes talvez sejam ainda mais convincentes, pois apenas pessoas reais podem "dia após dia [ser] as suas delícias" e também se alegrar no mundo e se deleitar com os filhos dos homens.
Mas se decidimos que "sabedoria" aqui se refere de fato ao Filho de Deus antes de ele se tornar homem, há uma dificuldade. Os versículos de 22-25 parecem falar da criação dessa pessoa chamada "sabedoria":
O Senhor me possuiu no princípio de seus caminhos, desde então, e antes de suas obras.
Desde a eternidade fui ungida, desde o princípio, antes do começo da terra. 
Quando ainda não havia abismos, fui gerada, quando ainda não havia fontes carregadas de águas.
Antes que os montes se houvessem assentado, antes dos outeiros, eu fui gerada.

Porventura  não  indica isso que tal "sabedoria" foi criada?
Na verdade, não. A palavra hebraica que geralmente significa "criar" (bãrã') não é usada no versículo 22; a palavra é qãnãh, que ocorre oitenta e quatro vezes no Antigo Testamento e quase sempre significa "obter, adquirir". A Almeida Revista e Atualizada é mais clara aqui: "O Senhor me possuía no início de sua obra" (Semelhante Á Versão King James; repare esse sentido da palavra em Gn 39.1; Ex 21.2; Pv 4.5, 7; 23.23; Ec 2.7; Is 1.3["possuidor"]. trata-se de um sentido legítimo e, se a sabedoria for compreendida como uma pessoa real, significaria apenas que Deus Pai começou a dirigir e a fazer uso da potente ação criadora de Deus Filho no momento do início da Criação: o Pai convocou o Filho a trabalhar com ele na obra da criação. A palavra "gerado" nos versículos 24 e 25 é um termo diferente, mas poderia carregar significado semelhante: o Pai começa a dirigir e a fazer uso da potente ação criadora do Filho na criação do universo.


Postado pelo Pastor Augustus Nicodemus Lopes



Nenhum comentário:

Postar um comentário

Comente aqui